Em termos culturais, poucas coisas foram tão representativas na década de 80 no Brasil como o rock. Com o iminente fim da ditadura militar, havia mais liberdade para se expressar e para criar na arte, havia uma juventude sedenta por gritar ao mundo aquilo que sentia e queria para si. Um dos primeiros grupos desse estilo a conquistar relevância foi a Blitz, que contava com humor em suas letras e apresentações carregadas de elementos cênicos. Evandro Mesquita e sua banda acabaram, de forma surpreendente, conquistando o país inteiro e mostrando que a cultura jovem no período da redemocratização seria moldada ao som do bom e velho rock and roll. É essa história que é apresentada em “Blitz, O Filme”.
O filme é um documentário que acompanha toda a trajetória da banda, e trás relatos cedidos por atuais integrantes e ex-integrantes, assim como eventuais colaboradores tidos por ela ao longo dos anos. Assim, o que pode-se afirmar logo é que a abrangência temporal e temática do longa-metragem é incrível. Ao seu término, é possível ter uma boa noção das diversas fases pelas quais a Blitz passou, de onde ela veio e como foi também se reinventando, o que é feito sem exposições prolongadas demais ou entediantes. Na realidade, assim como a banda, o filme é muito bem humorado e está repleto de episódios insólitos e divertidos que dão tom leve para a obra. É uma leveza que, no entanto, não é descompromissada já que existe muita solidez e informação contrastando com a diversão e as piadas. Alinhar a produção com as características do grupo que é nela retratado é um acerto em cheio e cativa o público.
É também bastante ágil em termos de montagem, que nunca nada estático em tela e sempre vai jogando novas informações, dados e materiais para ilustrar aquilo que está sendo dito. Nesse sentido, é impressionante que haja tantas imagens e vídeos de todas as épocas comentadas por “Blitz, O Filme”, já que sua linha do tempo se inicia nos anos 80 e vai até a atualidade. A construção linear que é colocada aqui é muito eficaz e rica nos seus detalhes e em comentários, feitas com o já mencionado bom-humor sem perder o rigor de um conteúdo mais factual. Nesse sentido, o diretor Paulo Fonenelle até nos mostra como o conjunto foi precursor e abriu as portas para que outros artistas viessem compor o cenário do rock nacional durante os anos 80.
Por fim, “Blitz, O Filme” é um longa que sabe muito bem o que quer. É preciso naquilo que faz e consegue ser equilibrado sem apresentar excessos em sua execução. Não seria para menos, já que a figura que capitania toda história é Evandro Mesquista, de um carisma ímpar. Vale mencionar que em momento algum o filme soa como mera propaganda ou algo do gênero, até os momentos ruins e fases em que houve desgastes e desentendimentos dos integrantes estão presentes na projeção. É, para além da carreira da própria Blitz, um grande relato de parte importante da cultura na história recente do Brasil.
Imagens: Viralata Produções