É bem impressionante o tanto que o cineasta Robert Eggers parece ter tomado de influência da literatura de H.P Lovecraft desde seu último trabalho, “A Bruxa”. Em “O Farol” vemos o que até mesmo poderia ser uma adaptação de um dos contos do escritor, tanto pelas temáticas como pela época em que se passa. Eggers se mostrou, em sua nova criação, centrado na psiquê humana. Seu olhar é voltado para o isolamento de dois indivíduos em meio a uma ilha isolada e como essa relação vai se dando também pela existência de um farol acesso proibido ao faroleiro mais jovem. Se trata, então, de um filme bem mais sensorial que de narrativa mirabolante. O foco, aqui, não é na trama.
Tal intenção é firmada fortemente através da fotografia, trazendo uma razão de aspecto em 1.19:1, o que faz com que o filme ocorra todo dentro de um quadrado bastante limitado. Desde os primeiros segundos de projeção, portanto, nos vem a sensação de sufocamento e de claustrofobia que se mantém constante o tempo inteiro. A opção por preto e branco para as cores, para além da questão estética, se justifica também pelo olhar melancólico posto pelas lentes para a história que está sendo contada. Não há vivacidade ou esperança para os dois faroleiros, eles se encontram presos naquela situação sem muito o que fazer e tendo que conviver um com o outro.
Aliás, “O Farol” provavelmente não funcionaria sem seu elenco. Enxuto e composto por Robert Pattinson e Willem Dafoe, é a partir da interação de ambos que parte da tensão vai se construindo. Como foi anteriormente dito, não há grandes acontecimentos ou reviravoltas no longa, o que joga bastante responsabilidade aos diálogos proferidos pelos personagens em alinhamento à linguagem audiovisual trabalhada. Os dois atores parecem ter entendido muito bem a proposta e se imergem dentro daquele mundo desesperador e enlouquecedor.
Quem rege magistralmente essa relação é a direção de Robert Eggers, que faz questão de ressaltar o distanciamento entre ambos e a forma como as duas figuras são hostis uma com a outra. Eggers filma com frequência diálogos que se compõe de plano e contra-plano, dando uma ideia de enfrentamento direto entre o personagem de Pattinson e o personagem de Dafoe. Por outro lado, quando eles estão próximos, a angústia é grande e a sensação de falta de espaço é gritante, desagradável.
Não menos importante, a trilha sonora é minimalista e não está presente durante todo tempo. Ela é dissonante, incômoda e denota estranheza quando é tocada. Pode ser considerada um complemento muito eficaz para a obra, sobretudo nas sequências mais alucinógenas que, mesmo em quantidade limitada, são de forte relevância quando aparecem.
Em suma, “O Farol” é um terror muito bem construído que propõe uma experiência sensorial acima da narrativa. Isso não significa, por outro lado, que a narrativa seja deixado de lado. É possível extrair discussões acerca de masculinidade e da psicologia humana a partir dela, mesmo que não haja grande vontade por parte do roteiro de explorá-las. Se há fraquezas na produção, certamente se pautam por haver certo tom enfadonho e previsível. Logo nos primeiros momentos, já é possível adivinhar para onde caminha “O Farol” e quais serão os caminhos percorridos.
Imagens e Vídeo: Divulgação/Vitrine Filmes
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