Quando as palavras “Queen” e “Rock and Roll” são colocadas na mesma frase, todos que a leem – ainda que não sejam adeptos do estilo musical – sabem do que se trata. Uma das maiores bandas da história é conhecida principalmente pela figura de seu vocalista, que possuía um estilo performático único e uma vida particular extremamente conturbada. Apesar de seu enorme sucesso, demorou muito tempo para que um roteiro sobre o grupo fosse filmado pela indústria hollywoodiana. Bem, para o bem de alguns que amaram a ideia de uma cinebiografia e para o mal daqueles que odiaram, em 2018 estreia “Bohemian Rhapsody”.
A trama do longa comandada pelo famigerado cineasta Bryan Singer acompanha toda a trajetória do Queen, mas volta boa parte das atenções para a persona de Freddie Mercury (Rami Malek). As câmeras de Singer dirigem-se ao garoto comum de família tradicional, que tinha quatro dentes a mais do que o normal. Mercury nunca quis retirar os dentes, pois, segundo ele, sua arcada dentária fazia com que tivesse um melhor alcance vocal, apesar de ter que conviver com um sorriso incomum. Ele se junta a Roger Taylor (Ben Hardy), John Deacon (Joseph Mazzello) e Brian May (Gwilym Lee) para formar a banda. Com eles, vem junto o maior amor do sexo feminino da vida do cantor: Mary Austin (Lucy Boynton). Austin foi o apoio moral e o ombro amigo durante toda a carreira de Mercury. É no período de formação da banda que o filme possui um de seus principais deslizes, já que tudo acontece de forma apressada: os membros se encontram, compõem as músicas, fazem alguns shows e são lançados ao estrelato, tirando um pouco da importância do processo.
Como cinema, “Bohemian Rhapsody” é prosaico, não trazendo nenhum tipo de elemento que o destaque no meio de tantas cinebiografias já feitas, porém, ele possui algo que atrairá multidões: músicas icônicas. Durante os shows e ensaios, grandes hits tomam conta das caixas de som, empolgando a plateia, principalmente os fãs de carteirinha. É comovente saber os motivos por trás de composições como “We Will Rock You”, “Love of My Life”, entre outras, e entender a arte daqueles músicos como pura, sem que interesses comerciais atrapalhassem em suas convicções. Mesmo as várias mudanças de estilos musicais são enfiadas goela abaixo de produtores e agentes. Em tempos atuais de opressão à cultura, é inspirador ver em tela artistas trabalhando livremente, sem nenhum tipo de interferência econômica, estatal ou religiosa.Malek ajuda na imersão desse mundo com uma atuação sólida, trazendo à vida os atributos performáticos de Mercury e não exagerando nos momentos que sua homossexualidade vem à tona. Com a ajuda da maquiagem e de um figurino excepcional, o ator realmente se destaca e, se não acontecer alguns dos muitos erros de julgamento da academia, será indicado ao Oscar. A sua entrega ao papel chega ao ápice na representação do Live Aid ocorrido em 1985, quando, após atritos e a separação da banda, eles se juntam para uma causa nobre (o show foi para arrecadar dinheiro para combater a fome na África). Nessas sequências, a alma do Queen está presente através da emoção de milhares de pessoas cantando juntas no estádio de Wembley. Só não é tudo perfeito por causa do trabalho de edição e de figuração mal executados. Cortando entre o plano geral do público para figuras isoladas, é possível perceber a diferença de iluminação entre um e outro e a falta de empolgação de alguns extras. Quando o palco é mostrado de frente, também é evidente a quantidade pequena de pessoas que estão na primeira fileira, destoando de shows reais onde aquela posição é extremamente agitada.
Ressalvas à parte, o filme é correto em sua proposta narrativa e magistral como um grande show cinematográfico do Queen. É certo que, ao final da sessão, alguém irá comprar uma camiseta da banda e baixar toda a sua discografia no Spotify. Com isso, Mercury e companhia continuarão vivos com seus refrães sobre amor, solidão e amizade; formando um mundo de admiradores que, de certa forma, farão para sempre parte da grande família real.
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