Em outubro de 1994, três estudantes de cinema se aventuraram na floresta de Burkittsville, conhecida anteriormente como Blair, para fazer um documentário sobre a famigerada bruxa de Blair, uma famosa lenda local. Logo em seguida eles desapareceram e as únicas pistas surgiram somente 4 anos depois quando as imagens produzidas por eles foram encontradas, rendendo um dos grandes clássicos cinematográficos responsável por inovar em relação ao conceito de terror e, sobretudo, o marketing utilizado para promover a produção. A atmosfera criada para que tudo fosse tido como algo que realmente estivesse acontecendo, inclusive em relação aos próprios atores, tornou-se a ideia perfeita para época, praticamente criando um dos estilos mais interessantes (que viria se tornar batido com o tempo) conhecido como “Found Footage” (algo como, gravações encontradas). A novidade fez com que várias pessoas pensassem que aquelas imagens realmente fossem reais, ou seja: a tentativa de criar um “documentário” tornara-se um grande pesadelo para aqueles jovens que mexeram com a história errada. O responsável por tanta repercussão foi uma pretensiosa campanha de marketing que girava em torno da “verdade”. O resultado foi uma nova e controversa experiência cinematográfica, que agradou diferentes pessoas e ganhou inúmeras críticas ao redor do mundo. No meio disso tudo, abocanhou também um dos maiores faturamentos do cinema de todos os tempos, em relação ao seu custo original.
Com um retorno financeiro tão grande, os estúdios acharam necessário investir rapidamente em uma sequência, intitulada “Bruxa de Blair 2: O livro das sombras”, o qual fracassou vergonhosamente ao trazer um produto sem nenhum conteúdo necessário para aquela trama, engavetando qualquer chance de uma possível franquia… – Pelo menos até agora!
Dezesseis anos depois do segundo filme, eis que surge uma nova proposta, quer dizer, não tão nova assim, muito parecida (quase igual) com a ideia original. Carregando o peso de ser uma espécie de ressurreição da célebre história que deixou muitas pessoas de queixo caído em 1999, “The Woods: Blair Witch” – Que muda mais uma vez o título na versão americana, enquanto no Brasil ele retorna com o mesmo usado no primeiro filme – traz a mesma premissa, renovada por recursos tecnológicos que buscam aproximar o público enquanto força um possível novo clássico. Entretanto, aqui, o resultado ficou um tanto quanto estranho.
Quase 20 anos se passaram e o irmão de Heather (Aquela menina que queria fazer o documentário no primeiro filme) cresceu e, com ele, a grande dúvida sobre o desaparecimento da irmã. Quando esse encontra um vídeo abordando um relato sobre a Bruxa no Youtube, imagina que o responsável pelo mesmo possa orientá-lo a encontrar o casebre no qual sua irmã desapareceu. Seu desejo de busca faz com que ele, repleto de equipamentos de cinema de última geração, uma amiga cineasta e outros interessados partam em busca da garota desaparecida, registrando toda a trajetória, como o “pseudodocumentário” não terminado em 1994.A produção traz Eduardo Sánchez e Daniel Myrick, que estiveram juntos no trabalho original, juntamente com Simon Barrett, Jason Constantine e outros nomes que entendem muito bem de como fazer um filme de terror. Embora a tentativa de renovar a franquia tenha sido boa, eles tropeçaram em diversos pontos e o máximo que conseguiram foi um filme repetitivo e coberto de exageros.
O roteiro, escrito pelo próprio Barrett (do ótimo “The Guest”), segue o mesmo ritmo do original, mas perde completamente o fator surpresa da antiga produção. Ele até tenta aprofundar a trama no universo do terror, mas nos apresenta uma sequência de efeitos desnecessários e diálogos combinados que nos faz lembrar de alguns filmes de horror classe “C”. O curioso é que Barrett faz de tudo para nos apresentar a tal bruxa e, para isso, utiliza diversos tipos de recursos. Entretanto, um espectador mais esperto pode ficar se perguntando se ele não teria “viajado” demais.
A direção de Adam Wingard talvez seja a melhor escolha do filme, ou pelo menos uma delas. Acostumado a trabalhar com a câmera com intuito de nos deixar eufóricos e/ou angustiados, o diretor surpreende ao abusar de movimentos rápidos e ângulos que chegam a causar claustrofobia.
Responsável pela segunda unidade de fotografia de filmes importantes, Robby Baumgartner perde sua chance de fazer um trabalho de impacto. Além de possuir um produto com um nome de peso nas mãos, o seu trabalho não desenvolve muito, impedindo o diretor de aumentar suas possibilidades.
A escolha do elenco foi outro grande tropeço do filme. Sem nenhum carisma e com um trabalho meia boca, digno de atuação de filmes adolescentes (de terror e/ou comédia), os atores nos levam a pensar mais uma vez e sentir falta do olhar perplexo e naturalidade do elenco original.
A direção de arte de Sheila Haley e o figurino de Katia Stano, realizam um bom trabalho, tanto nos cenários novos e vestimentas quanto no resgate da atmosfera do casa abandonada, foco das cenas mais importantes dos dois filmes.
Adam Wingard, além de dirigir e acertar em sua ideologia de trabalho, também consegue desempenhar um serviço excelente com a trilha sonora, fazendo dessa o coração que bate no corpo criado por ele.
“Bruxa de Blair” não é um terço do filme original, pelo menos não para quem gostou da primeira proposta, mas consegue causar alguns sustos interessantes e deixa o segundo filme perdido em um limbo sem volta. Todavia, se você não gostou da direção tomada no primeiro filme, com certeza vai se aproximar mais dessa produção do que da original. Vale a pena ver e tirar suas próprias conclusões.
https://www.youtube.com/watch?v=QkNaVSK_lXw
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