Estamos vivendo um momento de grande evolução tecnológica. Se há 10 anos as novidades eram celulares que tocavam a nossa música preferida em MP3, hoje esses aparelhos são indispensáveis, imagino eu, para quase 90% da população mundial (outra vez, eu imagino, não tenho dados que comprovem isso) porque além de sua função básica, de ligar para outra pessoa, eles ainda tem blocos de notas, calendários, despertadores, lanternas e, provavelmente o mais importante de todos, câmeras tanto para fotografar quanto para filmar.
E câmeras tão boas e potentes que pode-se até gravar um filme! A ideia surgiu primeiro lá fora, mas aqui em terras tupiniquins já temos nossa primeira produção inteiramente gravada em smartphone: Charlotte SP, que acompanha a vida de Charlotte (Fernanda Coutinho) e Marcelo (Guilherme Leal). Totalmente diferentes, os dois se conhecem em uma festa no nordeste e se reencontram em São Paulo.
Entre os desencontros que ambos têm, vão vivendo, se ajudando e desenhando alguns projetos que podem vir a acontecer algum dia, enquanto esperam coisas diferentes, vindos de vidas totalmente diferentes também. Por isso, ambos possuem visões tão distintas e, ás vezes, nada complementares.
Charlotte SP é um acontecimento, um fato e uma vitória para todos que participaram do projeto. Filmado com um orçamento muito baixo, sem grandes aparatos produtivos, chegou a sala de cinema e ao público. E sempre levará essa marca de ser o primeiro filme brasileiro a ser gravado por celular, um exemplo de que algo pode acontecer e que muita gente pode seguir.
Mas o que quer Charlotte? Tanto a Charlotte personagem quanto o filme Charlotte SP. É uma sucessão de acontecimentos sem nexos que passam tanto na vida dos personagens quanto no filme. O roteiro é fraco, não tem muito gancho entre seus acontecimentos e, para falar a verdade, ele esta tão ou mais perdido que os personagens do filme.Os enquadramentos escolhidos e a fotografia também não dão resultados nenhum. Não há uma proposta ali, apenas câmera próxima demais aos atores, focadas nos rostos enquanto as pessoas fingem que não estão vendo ela. Algumas cenas teriam sido melhores feitas se fossem pensadas de outra forma. As poucas vezes que o roteiro colaborou para o filme, foi perdido por uma péssima escolha da gravação. A fotografia também fez pouco para o produto final. As únicas imagens que valiam a pena foram feitas em uma locação de campo. Uma pena que não souberam aproveitar os melhores ângulos da selva de pedra que é São Paulo.
Os atores também parecem pouco a vontade em cena. Pior que ter um ator que atua mal, é ter um ator fake, ou seja, forçado em cena. Não têm naturalidade nas falas, nem nos gestos, não há química entre os atores, não há familiaridade com os ambientes, não há organicidade no que eles estão fazendo. E isso é muito visível.
A trilha sonora, assinada por Kiko Zambianchi, é mediana. Em alguns momentos ela acontece e até consegue salvar uma cena ou outra, mas em outros ela é fraca e existe até um momento que houve uma música de elevador entre uma das cenas de preenchimento. O áudio também ficou vazado algumas vezes e foi impossível entender o que havia sido dito.
A direção de Frank Mora é perdida e falta um pulso, um direcionamento ao projeto. É preciso ter fibra para colocar um filme assim no mundo, mas essa fibra, essa fome que o projeto precisava ter, infelizmente não transpareceu. São apenas situações que nunca chegam a lugar nenhum.
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