“Aprendeu 424 gírias do nada.”
Introduzido pela novela “Fina Estampa” (2011-2012), o mordomo Crodoaldo Valério logo conquistou a audiência. De coadjuvante a estrela, a figura não tardou a migrar para o cinema. Cinco anos após o primeiro longa-metragem, “Crô – O Filme” (2013), Marcelo Serrado volta às telas com “Crô em Família” (2018), estreia da próxima semana.
Dona de uma “Escola de Etiqueta, Finesse e Glamour”, a personagem enfrenta o divórcio de Zarolho (Raphael Vianna), seu antigo motorista. Durante o processo, Crô perde a guarda da “filha”, uma pequena cadela Maltês. Sozinho, surpreende-se, contudo, com a chegada de seis estranhos. Liderado pela matriarca Marinalva (Arlete Salles), o grupo se apresenta como familiares: ela, a mãe; Tonico (Orlando Pereira), o pai; Nando (João Baldasserini), o irmão; Luane (Karina Marthin), a cunhada; Liz (Mel Maia) e Fábio Júnior (João Bravo), os sobrinhos. Como única evidência de parentesco, no entanto, Marinalva aponta uma mancha nas nádegas, característica dos homens da família. A escassez de provas leva, então, à desconfiança da empregada Almerinda (Rosi Campos) e da melhor amiga Geni (Jefferson Schroeder).
A descrição, ainda que breve, já antecipa o confuso roteiro, adaptado por Leandro Soares (“Vai Que Cola – O Filme”) a partir do original de Aguinaldo Silva (“Crô – O Filme”). Em primeiro lugar, não há, por parte da dupla, qualquer cuidado em traçar uma continuidade, tanto em relação ao longa anterior quanto à própria narrativa. Adotada por Crô na produção de 2013, a menina boliviana Paloma (Urzula Canaviri) simplesmente desaparece, dando lugar à peluda filhinha. A preocupação de cinco anos antes com o trabalho infantil e escravo revela-se, desse modo, mero artifício narrativo. Soares e Silva também se esquecem da idolatria do protagonista pela mãe (Ivete Sangalo), sequer mencionada.
Quanto à coerência interna, por sua vez, a montagem deixa muito a desejar. Sem estrutura de filme e tampouco de novela, a sucessão de imagens falha em aspectos básicos, como as continuidades temporal e espacial. Cada cena parece, assim, um novo improviso, encaixado de qualquer forma em meio aos demais. Outro grande problema, o product placement – a publicidade indireta – carece de um mínimo de sutileza. Em determinada cena, por exemplo, Marcelo Serrado literalmente conversa com um copo apenas para mencionar o nome do patrocinador.
Sutileza, por sinal, passa longe do longa-metragem. Ciente do próprio fracasso, “Crô em Família” lança mão de todos os recursos possíveis para minimizar o desastre. Personagens vociferam uma gíria LGBT ou uma referência à cultura pop por milissegundo, e participações especiais tentam atrair o público de todos os lados. Além das cantoras Pabllo Vittar e Preta Gil (foto), a atriz Fabiana Karla (“O Palhaço”), o ator Luís Miranda (“Jean Charles”), o comediante Gigante Leo (“Altas Expectativas”), a cantora Jojo Todynho, o influenciador digital Gominho e os promoters David Brazil e Carol Sampaio têm seu tempo de tela. Como se não bastasse, as aparições de Ferdinando (Marcus Majella), de “Vai Que Cola”, e Seu Peru (Marcos Caruso), da “Escolinha do Professor Raimundo”, transformam o longa em um grande crossover do universo Globo.
“Pink Money – O Filme” – ops, “Crô em Família” – duvida, por fim, do intelecto do espectador ao tentar reduzir toda a comunidade LGBT a um conjunto de estereótipos. Diante disso, talvez pareça tarefa fácil enquadrá-lo, desde já, entre os piores filmes do ano. A afirmação, entretanto, parte do pressuposto de que realmente se trata de um filme. Provavelmente, então, não é a mais adequada.
* O filme estreia dia 6 de setembro, quinta-feira.
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