Se há algo que me importa menos é Wall Street, e se há algo que aprecio bastante são os videogames. Portanto, nada melhor do que assistir a um filme que retrata os tubarões de Wall Street encontrando dificuldades devido à valorização na bolsa de uma loja que comercializa jogos e consoles. A trama, baseada em eventos reais, gira em torno da rede GameStop, cujo valor disparou devido ao grande número de indivíduos que se uniram por meio da rede social Reddit e decidiram adquirir milhares de suas ações. Ações essas que praticamente não tinham valor de mercado antes do movimento coletivo. Portanto, é quase como se o socialismo, personificado na união das pessoas que buscavam o benefício do grupo do qual pertenciam entrasse em cena para oferecer uma valiosa lição ao capitalismo neoliberal.
O responsável por reunir essas pessoas foi Keith Gill (Paul Dano), um especialista em investimentos que oferecia orientações por meio do YouTube em plena pandemia de Covid-19. Foi ele quem influenciou a grande compra de ações da GameStop e incentivou todos a resistirem à tentação de vendê-las, mesmo quando acumularam uma fortuna. Naturalmente, a atitude desse homem chamou a atenção dos grandes investidores, que logo começaram a recorrer a artimanhas para minimizar suas perdas. O filme “Dinheiro Fácil”, dirigido por Craig Gillespie, narra essa história de forma mediana, mas sua mensagem torna-se significativa para aqueles que conseguem ler as entrelinhas. Afinal, vivemos em um mundo onde a financeirização assumiu o controle do capitalismo, deixando para trás as fábricas e migrando para a internet.
É curioso notar, portanto, que em 2020 a GameStop começou sua decadência, com lojas vazias e decisões equivocadas de seus líderes. No entanto, mesmo assim, suas ações foram supervalorizadas na bolsa, o que confirma a ilusão do mundo do capitalismo financeiro. Como pode uma empresa com pouco valor físico se tornar tão valiosa em termos de ações? A explicação é simples: o que levou a isso, não apenas com ela, mas também com muitas outras antes e depois dela, é a virtualização do dinheiro. Com um simples clique, algoritmos compram e vendem partes de uma empresa, que pode não valer nada no mundo real, mas que as especulações e manobras de agentes humanos transformam em fontes de riqueza. No final das contas, trata-se apenas de dinheiro comprando dinheiro. A mercadoria, no caso a GameStop, sai da equação e se torna irrelevante.
Gillespie poderia abordar profundamente essa dinâmica neoliberal e impessoal do novo capitalismo. No entanto, ao invés disso, ele opta pelo caminho mais fácil e comercial, através de uma narrativa no estilo das redes sociais, onde tudo é ágil, simplista e carente de reflexão profunda. Dito isso, a tentativa do roteiro de inserir um toque de drama familiar na jornada do protagonista torna-se quase patética, pois o que verdadeiramente importa na história é o movimento do dinheiro, com alguns poucos acumulando riqueza enquanto o restante luta para conquistar mais. É claro que em uma economia como a dos EUA, onde estudantes enfrentam dívidas educacionais e trabalhadores batalham por melhores condições sociais, as questões financeiras são de grande importância. No entanto, o ser humano é muito mais do que suas finanças, e esse aspecto deveria ser mais profundamente explorado no filme.
O resultado final é um elenco subutilizado, especialmente Shailene Woodley e Nick Offerman, e uma obra que tinha potencial para ser mais, mas se contenta em apresentar apenas o óbvio, visando um público menos exigente.
* Este Filme foi visto durante a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.