O laço da afetividade
Muito se ouviu falar sobre o primeiro longa-metragem dirigido pela a atriz Leandra Leal. Anos se passaram e ele enfim chegou as telas, como documentário, contando uma parte da vida e histórias das 8 primeiras artistas transformistas do Brasil, as “Divinas Divas” que fizeram parte da infância lúdica da diretora e tornou-se na tela uma imagem real e emocionante através de seu olhar.
Para entender um pouco além do que o filme apresenta, é preciso também conhecer um pouco sobre a vida de Leandra. O Teatro Rival, na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, que era de seu avô e que posteriormente foi passado para sua mãe, Ângela Leal, hoje está sobre o seu comando. Foi ali que ela cresceu vendo personagens tão marcantes que resultaram na ideia do documentário com Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujica de Holliday, Eloína, Marquesa e Brigitte de Búzios, que foram, na década de 70, propulsoras e revolucionarias sobre a questão do gênero e da sexualidade.
Através da arte construíram suas vidas como artistas, rodaram o mundo, conquistaram o público, mas também sofreram. E nos altos e baixos relatados em seus depoimentos que se constrói a narrativa desse delicado documentário, onde as artistas falam sobre o seus trabalhos, o início de carreira, a vida fora do país, o preconceito, a ditadura, o amor, a sexualidade, a velhice e a autoestima, sempre com muito astral, mas de arrancar lágrimas.
A Montagem/Edição de Natara Ney é uma das melhores que podemos ver no cinema documental brasileiro. Existe ali sua própria visão sobre aquelas mulheres, algo que influencia uma vez que ela também é roteirista do projeto, e consegue desenvolver uma narrativa que não se torna cansativa, mas cativante, sem datar os acontecimentos e deixando-os chegar até os expectadores naturalmente.
Já nos créditos iniciais nos sentimos inseridos a transformação narrativa ali proposta, algo que nos induz a isso, além da montagem e efeitos, é a Trilha Sonora magistralmente escolhida por Plinio Profeta, que nos deixa nostálgicos e entretidos a todo momento. Elas ajudam a fortalecer a história, agregando a obra a poética de outrora, ao longo de seus 110 minutos.
Para nos inserir na intimidade das Divas, Leandra contou com a Direção de Fotografia de David Pacheco, que usando a famosa técnica de “uma câmera na mão”, conseguiu capturar singularidades da privacidade de cada uma, expondo-as como seres humanos memoráveis, além de alcançar uma emoção genuína delas e de outras pessoas que deram seus depoimentos. Diga-se de passagem, o plano sequencia feito em steadycam é uma das melhores passagens fotográficas do filme.
O fato desse universo ser muito próximo a formação de Leandra, ela usufrui de suas memórias para nos evidenciar as artistas e por vezes foca em sua construção como pessoa e profissional por essa perspectiva. Tal fato por vezes é muito interessante e em outros momentos torna-se tão pessoal que perde-se um pouco do foco, mas isso não é algo que afete o que sentimos e vivenciamos ao assistir a obra.
“Divinas Divas” é algo superior a estreia de uma atriz como diretora, é um retrato vivo e histórico da vida de artistas revolucionárias, cada uma a sua maneira. Com um extremo bom humor, lagrimas de felicidade escorrem ao podermos conhecer um pouco do teatro nacional, numa época tão escura, mas cheio de alegria e brilho dado pelas 8 pioneiras.
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