Há pouco lançada a segunda parte da primeira temporada de “Edens Zero“, adaptação do trabalho do renomado mangaká Hiro Mashima, finalmente chegou ao catálogo do Netflix, enriquecendo também o catálogo das animações com dublagens em português. Sendo esse o terceiro grande trabalho de Mashima e o primeiro logo após o enorme sucesso de Fairy Tail, algumas críticas já presentes em outros trabalhos vieram novamente a tona, mas… será que esse hate tem mesmo procedência?
A premissa de Edens Zero não é de fato algo novo, talvez sendo uma das coisas que melhor funcione no show, e pode fazer com que alguns inevitavelmente comparem a obra com One Piece, afinal, a tripulação da nave de Shiki e seus “aventureiros”, viaja de planeta em planeta pelo Cosmo das Cerejeiras e encontram habitantes/situações sempre diferentes, com infinitas possibilidades para imprevistos, tal como ocorre com a tripulação do chapéu de palha. No entanto, esse modelo de narrativo é um tanto quanto vago: a busca pelo tesouro prometido (MacGuffin), seja conhecer “a Mãe” ou encontrar o “One Piece”, é algo presente em praticamente toda jornada do herói, e olhando em retrospecto, Mashima sempre foi muito competente em elaborar premissas, mesmo que simples, interessantes e capazes de atrair um grande público.

One Piece pode de fato não ter inventado a roda, mas se tem algum lugar do qual seja justo acusar Mashima de “cópia” é, por irônico que pareça, de seu próprio trabalho. É verdade que outros autores, incluindo o mestre Osamu Tezuka, reciclam o design de seus personagens ao ponto de que eles se tornem, literalmente, atores das histórias de seus criadores — sim, como nos filmes da Barbie — porém, é de se questionar quando as personalidades não acompanhem uma mudança junto ao novo enredo.
Para um espectador com primeiro contato, a experiência de Edens Zero deve soar como essa empolgante viagem por um universo grande demais para ser tedioso, contudo, para os fãs de Shounen e especialmente para quem já acompanhou outros trabalhos de Hiro, há uma repetição desagradável de uma mesma fórmula sem levar muito para algum lugar outro, seja quanto aos protagonistas quanto ao enredo em si.
Essas infindas possibilidades também são sufocantes para a proposta, não de uma maneira extrema, sim de um roteiro que progride aos poucos repetindo os mesmos paradigmas — alô, Fairy Tail — em outras palavras, quem assiste pode ter a impressão a longo prazo de “eu já assisti isso antes”. Quanto aos personagens, não seria justo rejeitá-los num todo e fazer um manifesto contra o “shounen farofa” tradicional, mas há alguns casos que merecem atenção em especial.
Tomando como exemplo o protagonista Shiki: ele é a síntese do herói de seu tipo de história; tal como Goku, Luffy, Naruto — e Natsu! — ele é bobão, ingênuo, tem um bom coração e seu próprio código de herói, que nós últimos três casos inclui um jeito malandro de ser. Não há exatamente muito o que ser dito aqui, é um personagem típico que cumpre seu papel. Há um ponto delicado, porém, com as cenas de luta que se resolvem sem maiores tensões. Shiki é (sem exageros) capaz de passar por cima até mesmo das regras da física de onde está, criando um desbalanço no nível de poder.
Se Fairy Tail tem dois protagonistas, em Edens Zero, com bem menos destaque, há também a mocinha principal, Rebecca. Desastrada, gentil, ardilosa, voz da razão, ciente de seu próprio poder de sedução e, claro, magra e cheia de curvas. Para além de ser por vezes a única com juízo na tripulação, Rebecca a princípio não cumpre um papel muito combativo, sendo relegada a um alívio cômico que por frequentes vezes envolve ficar com pouca roupa (!).

Entretanto, analisando Edens por si só, há uma evolução na habilidade do autor de apresentar uma história. Um dos problemas dos shounens em geral é não apresentar personagens femininas que sejam fortes como as masculinas, donas de suas histórias, coisa que os mangás de Hiro Mashima merecem algum voto de confiança: se em sua obra anterior há várias personagens mulheres incríveis, mas com potencial desperdiçado, aqui elas possuem mais destaque tanto nas cenas de ação como em posições de poder. A recorrente sexualização com intuito cômico, por outro lado, é algo que vai em total choque a isso: há um momento em específico no início da aventura que várias personagens são despidas e subjugadas por puro sadismo, por exemplo.
A classificação indicativa de dezesseis anos ao mesmo tempo que retrata a maior liberdade que o autor teve para fazer esse tipo de humor escrachado — e comum no Japão — também serviu para uma violência um pouco mais gráfica. No entanto, se comparado novamente a seus outros trabalhos, o tom lúdico/infantil continua o mesmo; não é uma obra que apresenta a grandes reflexões — e tudo bem — mas a despeito dessa mudança de recomendação etária, Edens se propõe a ser um shounen para todas as idades, desde que os mais velhos se permitam deixar levar de mente aberta a esse mundo do surreal — colocando de outro jeito: é um show com ares de ser para criança mas com elementos “mais dezesseis”.
Quanto à direção de arte, destarte o design dos personagens no mesmo molde — e isso é um problema/questão do estilo do autor — o telespectador tem um show a parte durante todo episódio. Cada frame parece receber um trabalho especial, as cores são vivas e a animação deslumbrante ajuda a transmitir o clima de aventura épica desejado. Shinji Ishihara, responsável da área, já trabalhou com Hiro em Fairy Tail e em outros animes de destaque, como Fullmetal Alchemist e Boku no Hero Academia.
Para finalizar, um último problema que pode para alguns ressoar mais ou menos, a depender do tipo do perfil de quem assiste, é que justamente por poder se esperar qualquer coisa do anime se apresentem soluções repentinas para problemas do enredo, vários dei ex machina. Para a proposta mais zombeteira e até infantil, isso se torna um problema menor, porém que passa a impressão da inteligência do telespectador ser subestimada.
Em retrospecto, a primeira parte de Edens Zero é muito competente no que se propõe: um shounen para as massas que, contudo, não possui nenhuma glória pela qual se diferencie das demais opções disponíveis ao público. É sim uma viagem para um lugar aconchegante em que tudo é possível, com seus devidos problemas de execução, mas capaz de fazer os problemas irem embora da cabeça de quem assiste e quer se deixar permitir tocar pelo absurdo.

Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Note-se que quem escreveu esta nota não leu o mangá
Hey! Nick aqui.
A crítica é sobre o conteúdo apresentado o anime o/
Poderia ser também injusto da minha parte julgar um material pelo outro, como The Promised Neverland, que tem uma mudança de qualidade nas adaptações.
Abraço!