ELENA (2012) é um documentário brasileiro forte e emocionante, desses inesquecíveis que temos vontade de indicar para todos; uma história pessoal, sobre amor e perda, transportada para a tela de forma delicada e corajosa. Mas, não é uma obra para qualquer espectador; parafraseando Clarice Lispector, ficaria feliz se este filme fosse visto apenas por pessoas de alma já formada. Aquelas que sabem que a aproximação, do que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente—atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar.
82 minutos de poesia, de sonhos, de prazer, de dor, de memória latente, de tristeza, de força poética, de vida e de morte, assim podemos descrever ELENA, dirigido por Petra Costa e produzido pela Busca Vida Filmes.
No elenco, três mulheres ( Li an, Petra Costa e Elena Andrade). Através de vídeos caseiros feitos por Elena–guardados desde 1980– , Petra nos apresenta a infância ao lado da irmã e da mãe ( Li an); o brincar de ser atriz, e o momento da partida.
No filme, somos guiados pelas vozes e olhares, de Petra Costa e Li an, uma espécie de camera-eye que captura a tristeza ao mesmo tempo narra a história de Elena Andrade , uma jovem brasileira que viaja para Nova York aos 20 anos, e cujo maior sonho era ser atriz de cinema. Somado aos vídeos caseiros, temos o diário de Elena, as reportagens e os depoimentos emocionantes (de familiares e de amigos) que serviram de memória viva para compor o roteiro singular, assinado por Petra e Carolina Ziskind. O enredo não segue uma sequência cronológica, assim temos uma mistura dos espaços ( interior e exterior), acentuando uma narrativa psicológica que traz à tona flashs memorialísticos.
A fotografia criou uma atmosfera extremamente poética e adequada ao filme: as cores e luzes da cidade de Nova York, os movimentos aos poucos revelados , a forma como a paisagem é apresentada– ora borrões ( como o esforço de lembrar), ora claríssima ( como as águas dum rio translúcido) merecem destaque. ELENA foi exibido em diversos festivais, no Brasil e no exterior, recebendo importantes prêmios em onze, entre os quais o de melhor filme no Arlington International Film Festival (AIFF) – Estados Unidos , melhor documentário no Los Angeles Brazilian Film Festival e no Films de Femmes 2013.
O filme não se trata apenas de um documentário autobiográfico e de uma homenagem à memória da irmã mais velha, e sim da coragem de doar-se, de reviver uma tragédia pessoal e de colocar em cheque um assunto tabu em nossa sociedade: o suicídio. Dessa forma, elas, personagens reais, são para a obra o que o coração é para o corpo. As batidas são fortes, e aceleradas, a procura de um espectador sensível e corajoso para escutá-las.
Por Renata Ferreira
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