O diretor espanhol Pedro Almodóvar teve sua carreira marcada por obras que não possuem receio em registrar o íntimo de seus personagens, desde seus conflitos internos até suas relações mais… complexas. E em seu novo curta metragem não poderia ser diferente. Aqui, o diretor conta a história do cowboy Silva e o Xerife Jake, interpretados respectivamente por Pedro Pascal e Ethan Hawke, que, após 20 anos distantes um do outro, se reencontram na pequena cidade de Bitter Creek. Após uma noite relembrando os velhos tempos, Jake percebe que Silva não está ali somente por causa de seu passado, e os dois se veem em uma encruzilhada.
Neste velho oeste, filmado nos mesmos cenários dos filmes de spaghetti western de Sérgio Leone, Pedro Almodóvar procura construir um grande conflito entre dois amantes de longa data que, mesmo após anos distantes, o desejo um pelo outro jamais se foi. E isso é impresso em tela com maestria por Ethan Hawke e Pedro Pascal, que vinha de papéis de grande destaque na televisão americana, participando de séries como “O Mandaloriano” e “The Last Of Us”, o que pode ter gerado uma certa comoção na internet ao perceber que o ator poderia ser registrado através da lente intimista do diretor. Porém, não se engane pelos closes nas costas nuas de Silva, esse não é um dos filmes mais imageticamente expositivos de Almodóvar. Mas o desejo e a intenção dos personagens estão presentes em outras faces do filme.
Tanto o diálogo que precede a noite de seu reencontro quanto aquele que é tido na manhã após a noite de amor entre os dois personagens demonstram o domínio do diretor em estabelecer rapidamente, devido a estrutura de curta-metragem, o amor e a tensão entre os pistoleiros. Nós precisamos somente de dois diálogos para nos encontrarmos extremamente interessados pela trama desses dois cowboys.
O que segue após é o que despertou a curiosidade de muitos quando o artista contou em entrevista que a possibilidade de dirigir “O Segredo de Brokeback Mountain” passou pelas suas mãos, “como seria um western dirigido por Pedro Almodóvar?” E para responder essa pergunta, o diretor não poupou o curta-metragem de detalhes. Para construir a ambientação, o filme tem em sua sequência inicial a música “Estranha Forma de vida”, que dá título ao filme e é interpretado por Caetano Veloso. Seus personagens possuem roupas com cores mais vivas do que seria o habitual para um filme do gênero, assinadas pela grife Yves Saint Laurent. E, claro, as cores avermelhadas já habituais às obras do diretor permeiam grande parte da cinematografia do filme.
Entretanto, ao passar 30 minutos investido naqueles personagens e na trama que se segue em tela, temos um final que para muitos pode vir a ser insatisfatório. A estrutura narrativa, que pode ser considerada um média-metragem para muitos, cria um vácuo para a obra de Almodóvar, que pode tanto nos deixar desejando por mais, quanto fazer com que o público se questione, “é só isso?”.
Em resumo, Almodóvar se apropria do gênero para fazer uma espécie de exercício, capaz de satisfazer aqueles que há muito tempo gostariam de assistir um western do diretor, mas não capaz de satisfazer aqueles que gostariam de ver a “estranha” forma de vida que ele anuncia no título do filme.
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