Cinema Autoral
Fazer o primeiro longa é sempre um trabalho complicado e por vezes os obstáculos podem nos levar a desistencia. Porém, quando se acredita na história e monta-se uma boa equipe, a produção torna-se um pouco mais fácil e o que vemos na tela é o resultado da força de vontade de se fazer cinema. É nesse ponto que se encontra o longa brasileiro “Fala Comigo”, marcando a estreia de Felipe Sholl na direção.
A trama gira em torno de Diogo (Tom Karabachian), um garoto de 17 anos que tem o costume, ou podemos dizer fetiche, de ligar anonimamente para as clientes de sua mãe psicanalista, Clarice (Denise Fraga), e se masturbar enquanto as ouve pelo telefone. Ângela (Karine Teles), uma mulher por volta dos 40 anos, que foi abandonada pelo marido, se torna alvo dessas ligações e até certo ponto acredita que quem a liga é o seu ex, mesmo sem dizer uma palavra. Em determinado momento a verdade vem à tona e Ângela e Diogo passam a ter um relacionamento e precisarão superar alguns empecilhos para ficaram juntos.
O roteiro, assinado pelo próprio diretor, embora se pareça inicialmente estranho tem uma naturalidade tão intrínseca e envolvente que, durante todo o filme, nos sentimos inseridos nos diálogos genuínos, por vezes triviais, que nos apresentam os personagens dialogando diretamente com a nossa realidade. Algo semelhante à quem assistiu aos filmes “Campo Grande”, de Sandra Kogut, e “Hoje”, de Tata Amaral, que também foram roteirizados por Sholl.
Em seu primeiro trabalho como diretor existe um cuidado imenso para retratar a narrativa. Ainda que por vezes siga para uma linguagem experimental, fazendo testes e movimentações a fim de se cumprir a almejada linguagem pessoal. Esse cuidado resulta numa direção de atores mais cuidadosa do que a direção técnica e é por isso, talvez, que nos sentimos tão inertes nesse drama capaz de nos arrancar nervosos sorrisos, pela forma pura como as descobertas e a relações do protagonista com familiares, amigos e até a namorada, são mostradas.
Embora a Fotografia, de Léo Bittencourt, e a Montagem/Edição, de Luisa Marques, possam não ser o melhor para a produção, eles realizam o trabalho de forma graciosa, que se encaixa ao estilo definido pela intimidade e simplicidade dos recortes da direção. Vale ressaltar também, que existe uma oscilação em ambos os trabalhos que vai do muito bom ao regular, mas em momento algum atrapalha diretamente a evolução da obra.
Outra valida circunstância, que é bem constante em primeiros longas, é o financeiro ou a falta dele. Tal obstáculo foi superado pela Produção de Daniel Van Hoogstraten e pela Direção de Arte de Cedric Aveline, que com locações e uma boa base de pesquisa e desenvolvimento conseguiram dar vida ao projeto e ao visual do mesmo.
Mas se estamos falando em dar vida, o elenco tem um grande mérito no resultado do filme. Denise Fraga tem uma presença e uma personalidade tão únicas que ela dá mais ao personagem do que ele à ela, e enxergamos a Denise magistralmente sendo ela mesma dando a vida à outras personas, de forma singular que outros atores não conseguem. O pai, vivido por Emilio de Mello, mesmo pequeno na trama, tem tanta presença que nos fica a vontade de conhecer mais sobre sua postura com relação a família.
Nessa produção, os protagonistas vividos pelo estreante Tom Karabachian e pela já experiente Kerine Teles possuem uma química tão autêntica e bem desenvolvida que é difícil dizer quem se destaca mais que o outro. Tom fez das descobertas de Diogo uma experiência de ligação direta entre o personagem e o público, enquanto Karine nos entrega uma das suas melhores interpretações, que nos soa estranha e palpável ao mesmo tempo.
Não há dúvidas que “Fala Comigo” é uma das mais gratas surpresas do último ano, talvez dos últimos anos, no cinema nacional. A abordagem fala por si e a forma como as coisas se encaixam fazem do longa uma excelente estreia autoral de Sholl. Delicado, envolvente e natural o longa supera a expectativa e nos toca por seu silêncio cotidiano.
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O pior filme que já vi em toda minha vida, grosseiro, mal produzido, criminoso, pois incentiva a pedófilia. Uma vergonha do cinema nacional.
Olá Julia.
Opinião e/ou gosto é uma coisa que não se discute. Não concordo com o que disse, mas como crítico respeito o fato de não ter gostado do filme. Contudo, você faz uma acusação grave sobre produção. Como a Woo Magazine é um canal de comunicação, venho por meio desse comentário esclarecer algo que você, talvez, ainda não tenha conhecimento. Mas relaxa, ninguém é obrigado a saber de tudo.
1º Todos os atores do filme já eram maiores de idade e conscientes dos papeis que fariam durante as gravações. Por tanto, não houve, em momento algum constrangimento, nem foi colocado nenhum menor exposto a tal situação. Então, a produção não cometeu o crime do Art. 240 do ECA: Utilização de criança ou adolescente em cena pornográfica ou de sexo explícito; nem o Art. 241-A do ECA: Difusão de pedofilia; muito menos os Art. 241-C do ECA: Simulacro de pedofilia e Art. 241-D do ECA: Aliciamento de menores.
2º De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pedofilia está entre os transtornos da preferência sexual. Os Pedófilos são pessoas adultas (homens e mulheres) que têm preferência sexual por crianças – meninas ou meninos – do mesmo sexo ou de sexo diferente, geralmente pré-púberes (que ainda não atingiram a puberdade) ou no início da puberdade.
3º Dando continuidade ao 2º ponto, você não deve ter prestado atenção que a personagem Ângela (Karine Teles), uma mulher por volta dos 40 anos, que foi abandonada pelo marido e sofre de depressão após o abandono, provavelmente ela já seria depressiva antes do ocorrido, mas ela não é pedofila. Embora, se relacione com o Diogo (Tom Karabachian), um garoto de 17 anos, tal relacionamento não se configura pedofila por ser um relacionamento consentido e afirmado em grande parte pelo próprio garoto.
4º O código penal considera crime a relação sexual ou ato libidinoso (todo ato de satisfação do desejo, ou apetite sexual da pessoa) praticado por adulto com criança ou adolescente menor de 14 anos. Conforme o artigo 241-B do ECA é considerado crime, inclusive, o ato de “adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente”.O que faz meus pontos anteriores ainda mais válidos.
5º O cinema é um arte onde nos é exposto situações cotidianas e/ou fantásticas, seja para o lado bom ou ruim. Existem, não só no Brasil, inúmeros filmes, que possam ser considerados vergonha, mas por serem “gringos” muita gente apenas fecha os olhos e se cala. E nossa vergonha para com esses filmes é mais associado a descumprimento das leis. Porque filme ruim é ruim, a vergonha é de quem o fez, não nossa.
6º Convido você a ler o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, antes de ofender gravemente uma produção, seja ela brasileira ou estrangeira.
7º Sobre ser mal produzido, convido você a pesquisar e assistir mais filmes independentes e com poucos recursos. Também deixo o convite aberto para conhecer a história do cinema nacional, nosso “Nouvelle Vague”, nosso “Boca do Lixo”, as inúmeras “Pornochanchadas” e o “Cinema de Retomada”. Mas em paralelo estude também a história do Brasil, pois ela faz toda a diferença para compreender o movimento cultural, social e nosso cinema.
8º Por ultimo, mas não menos importante, agradeço seu comentário. É mais uma prova que precisamos difundir mais e mais conhecimento, afinal, conhecimento NUNCA é demais.
Espero que tenha ajudado e que nunca se esqueça que antes de “criminalizar” é preciso ter provas.
Beijos de luz e paz no coração.