Em Francofonia, o Louvre se torna espaço de disputa entre poderes. Em meio a um diálogo entrecortado pela qualidade da conexão com a internet, devido as condições do mal tempo, o diretor se corresponde com um marinheiro o qual transporta conteiners repletos de obras de arte na iminência do afogamento da carga. Tais cenas podem sugerir tanto a condição de preservação do patrimônio artístico quanto a condição humana colocando em questão a potência da arte enquanto força aglutinadora de movimentos.
O espaço-tempo em que se revela Francofonia é a ocupação da Alemanha nazista no território francês, em meados de 1940. O protagonismo é direcionado a Jacques Jaujard, então diretor do Museu do Louvre, e o chefe da Kunstschutz (Comissão Alemã para a Proteção de Obras de Arte), o conde Franz Von Wolff-Metternich. A dupla se une em segredo para resguardar algumas coleções do museu francês de serem apreendidas pelo poder militar alemão.
A discussão segue em torno da importância de preservar o patrimônio histórico abrigado por museus ao tratar das instâncias do poder comentando a política e identidades culturais. Apesar da história ser pouco contada no universo da arte, a grande novidade de Francofonia se dá pelo viés técnico. Sokurov, diretor conhecido pela afeição a instituições museais e suportes tecnológicos, também vistos no premiado Arca Russa sobre o museu russo Hermitage, contou com a filmagem através de drones. Essa captura de imagens possibilitou ângulos nunca vistos do museu transformando o filme em uma montagem inovadora com closes nas obras e uma qualidade da resolução deslumbrante.
Não se trata de uma montagem fácil, é necessário empenho do espectador para se manter em contato com a mescla entre cenas documentais e ficcionais. E, ao fazer isso, a impressão é de que Sokurov destrói narrativas da linguagem cinematográfica ao mesmo tempo em que constrói outras completamente novas. A experiência diante da tela nos aproxima de alguma produção do Jean-Luc Godard. Os cortes e a sobreposição das cenas quase como colagens enquanto Sokurov narra cenas interferindo diretamente nos acontecimentos da montagem.
O drone enquanto dispositivo de apelo estético unido as referências de arte clássica doadas por Francofonia acertam ao tratar o Museu como espaço de disseminação de saberes que proporciona trocas simbólicas. O teor filosófico dos diálogos perpassados pelas imagens das obras transforma o dispositivo fílmico num aprofundamento exuberante acerca da História da arte ocidental. Como se esta fosse a única instância de poder que ainda vale a pena ser respeitada.
Ficha técnica:
Título: Francofonia – Louvre sob ocupação
Título original: Francofonia, le Louve sous l’Ocupation
Gênero: Documentário
Duração: 84 minutos
Classificação: Não recomendado para menores de 18 anos
Diretor: Alexander Sokurov
País de produção: França|Alemanha|Holanda
Ano: 2016
Premiado na edição de 2015 do Festival de Veneza, exibido no Festival de Toronto do mesmo ano e em outros vários festivais europeus.
Por Michaela Blanc
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