Pois é… conforme a sinopse de “Herói de Sangue”, na época da Primeira Guerra Mundial, a França, representada pelos seus militares, ia às suas colônias no alto do rio Níger no Senegal e no Sudão para recrutar à força os agricultores e pastores africanos, prometendo cidadania francesa além de reconhecimento e pompa de herói aos sobreviventes.
Mas como se sabe, principalmente em uma guerra dessa magnitude, as coisas não são tão simples assim.
Isso porque além de recrutar à força, ainda havia aqueles que eram muçulmanos e tinham como dogma não matar, não beber e nem comer carne de porco, num front em que o que menos se tinha era conforto ou possibilidade de escolher refeições ou até um lugar para descansar.
É por isso que em “Herói de Sangue”, Bakari Diallo e seu filho Thierno, este que é literalmente caçado no próprio campo que cultiva e pastoreia, vão servir às “gloriosas” fileiras francesas, como lhe é propagandeado.
Sem poder impedir essa situação, Bakari (o sempre competente Omar Sy), se alista voluntariamente para ir à guerra e ficar próximo do seu filho para protegê-lo e devolvê-lo em segurança após a guerra.
Porém, infelizmente a guerra é um animal feroz, que não respeita sentimentos de proteção, sejam eles fraternais ou sentimentais, e os dois passam pelas misérias inerentes a esse contexto, com violência a qual eles não conheciam, provações físicas e espirituais.
Esse pai fará tudo que for possível para cumprir a promessa que fez a sua esposa e no decorrer do filme, tenta como todo pai zeloso, não só proteger, mas orientar e guiar através da sua religião, um bom proceder mesmo num lugar em que nada é respeitado ou sagrado.
A situação se agrava pois, após as perdas de vidas que são inevitáveis, um dos dois recebe uma “promoção” e passa a ter maior “autoridade” sobre o outro, acirrando os conflitos geracionais e gerando uma cisão que antes não havia no relacionamento de respeito entre pai e filho.
O filme não é longo, tem 98 minutos, é conciso e focado nos personagens do entorno dessa companhia militar.
Temos o malandro que conhece todo mundo e oferece aquela oportunidade de fuga “marota”, o filho do general que é vaidoso e precisa se provar a todo momento, não importando os sacrifícios de seus comandados.
E não que ele seja uma má pessoa ou autoritário além dos limites, pois trata os seus com respeito e igualdade nas opiniões, porém seu patriotismo exacerbado, delírios de grandeza e tendência ao heroísmo, complica os planos de Bakari para retirar desse inferno, seu filho Thierno que passa a ficar cada vez mais insensível ao horror que lhe cerca, como seria normal a todo adolescente nessa situação.
Um filme digno, importante, que mostra a que um pai responsável se sujeita e sacrifica quando está diante de uma situação que pode decidir a vida de seu filho num momento histórico em que lhe escapa a decisão.
Porém senti falta de uma maior escala do conflito, considerando a porção do continente africano, a falta de informação dos reais destinos de todos os que sobreviveram a esse inferno, embora entenda que de repente nem era essa a proposta e sim permanecer em um registro intimista, mas tem uma homenagem singela que é misturada com a história real de um desses bravos, que pereceram pela “glória” da França, que sugere a possibilidade de maior abordagem.
Mais um registro cinematográfico digno, do que a guerra destrói… tudo e todos.
Por Roberto Rezende
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