A comédia “Andaime”, com texto de Sérgio Roveri e direção de Elias Andreato foi apresentada no Teatro UOL e possui como eixo central o olhar do cidadão comum invisibilizado, assim como seus saberes, inseguranças sobre o futuro e compreensão de classe social. Todos esses elementos são esfumados ao longo da narrativa.
LEIA MAIS: Crítica: O Método Grönholm
A peça coloca o espectador para acompanhar um dia do trabalho de dois limpadores de janela de um prédio em São Paulo, Mário (Claudio Fontana) e Claudionor (Elias Andreato). Eles conversam sobre diversos assuntos, como questões de família, o medo de serem substituídos pela tecnologia, vida em outros planetas e tarólogas, através de diálogos simples, baseados no senso comum, mas que buscam representar o cotidiano do trabalhador braçal.
A cenografia e o figurino escolhidos por Gabriel Villela ambientam o espectador no plano do reconhecível nas grandes cidades. Os figurinos, por exemplo, são muito pautados na percepção material do trabalho dos personagens, o que é condizente para a peça, e funcionam tão bem que se encontrássemos os atores pelos corredores, muito provavelmente os invisibilizaríamos, tal como ocorre no mundo cotidiano.
O cenário, por sua vez, é fixo, com a simulação das paredes de um prédio espelhado e um andaime apoiado no teto. Ele está integrado totalmente à narrativa, pois a cada vez que se propõe a subida ou descida entre os andares, conhecemos mais o edifício comercial de onde os personagens retiram a matéria da qual lapidarão em seus comentários. Entretanto, esse efeito é mais perceptível no texto, pois a simulação da subida e descida foi pensada a partir da iluminação, que não conseguiu atingir esse objetivo.
A química entre Claudio Fontana e Elias Andreato é muito palpável e a amizade deles transborda para os personagens que interpretam, o que funciona bem para uma peça em que eles não saem de cena e os diálogos devem ser rápidos e bem-humorados, como se espera de uma comédia. Claudio consegue transmitir as emoções de um trabalhador que almeja outro tipo de emprego, de que gosta da vida mais boêmia, que ama a esposa, enquanto Elias cria para seu personagem Claudionor um “velho rabugento”, mais mal-humorado, que quer se aposentar e, por isso, sem expectativas de sair do trabalho. Enquanto o primeiro é mais otimista, o segundo é mais pessimista, o que se converte em diálogos muito cômicos, provocando o riso após quase cada fala.
À essas fabulosas atuações, o roteiro leve articula uma estrutura circular, que insere um tema, os personagens o enfocam em suas piadas e a transição para o outro tema é marcada por comentários de cunho mais familiar ou pelo andaime que sobe. A temática do mundo cotidiano funciona muito bem, gerando uma comédia divertidíssima com humor inteligente. Eles optam por trabalhar com as questões da invisibilidade de personagens e dá pra sentir isso.
Os comentários acerca dessa invisibilidade surgem no distanciamento que o espectador pode ter do espetáculo, pois em diversas falas, os personagens criticam sua posição social e financeira diante de um prédio com pessoas ricas, a maneira como são tratados pelos funcionários desse prédio comercial, bem como seus conhecimentos limitados dos temas que discutem.
Em suma, “Andaime” apresenta uma abordagem perspicaz e divertida sobre a invisibilidade do cidadão comum. O roteiro leve e a estrutura circular do espetáculo, bem como as atuações, resultam em uma comédia inteligente e divertida para o fim de noite. Além disso, a peça explora criticamente a posição social dos personagens, gerando reflexões sobre a invisibilidade e as desigualdades presentes na sociedade contemporânea.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.