Quando Bram Stoker publicou, ainda em 1897, “Drácula”, talvez jamais imaginasse a proporção que seus escritos tomariam. Foram eles os grandes responsáveis pela solidificação de um personagem lendário, de toda uma mitologia que se estabeleceu no imaginário popular, sendo tudo um somatório de diversas lendas e mitos antigos provenientes da Romênia e de outros locais na Europa. De lá até cá, inúmeras foram as adaptações dessa história ou de outras que derivassem dela, com as mais diversas características. Desde “O Drácula de Bram Stoker”, marcante filme de Francis Ford Coppola, até o clássico “Nosferatu”, um dos principais títulos do expressionismo alemão, cada versão continha sua leitura, sua inserção em uma época. O que talvez Stoker nunca tenha imaginado, lá no século XIX, seria que, em 2018, “Hotel Transilvânia 3” seria lançado como terceiro de uma franquia de filmes de animação. Voltado para o público infantil, mas com universo originalmente soturno, sombrio. Inusitado, mas não surpreendente.
Com algumas curiosas referências a outras obras da cultura pop, como a que há de “Gremlins”, “Hotel Transilvânia 3” subverte a expectativa de uma trama envolvendo o Conde Drácula que fosse essencialmente do terror, com estética gótica. Temos uma comédia infantil, em animação, e que já desde seu design de produção deixa claro o tom do longa. Os personagens são fofos, cartunescos e em nada amedrontadores, embora se chamem de monstros e de fato o sejam. Ainda se faz necessário citar as cores, muito vivas e quentes, ressaltando a positividade e o clima inocente que a projeção tem, invariavelmente. Nesse sentido, há também um contraste do que poderia ser esperado na medida em que o roteiro se desenrola quase que inteiramente durante um cruzeiro de férias de Drácula e seus amigos. Aliás, não centrar só no protagonista e estabelecer um mundo orgânico, com bastante variação de criaturas vistas é um elemento bem-vindo que está presente aqui, ainda que não seja nada de excepcional.
No entanto, mesmo pequenas sutilezas e momentos mais sagazes não tornam a obra especial em sentido algum. Poderia ser tranquilamente um episódio de desenho animado de trinta minutos, porém que se estende até quase uma hora e meia. Não existe uma profundidade no roteiro ou engajamento por parte do público que se sustente por tanto tempo, nenhum personagem tem carisma que gere isso, ou mesmo arcos dramáticos para tal. Agrada ao público alvo, mas cansa muito facilmente quem sai dele. Dizer que é fraco talvez seja incorreto, e por isso insuficiente, provavelmente, pode ser um adjetivo melhor.
Assim, “Hotel Transilvânia 3” é entretenimento franco. Honesto e direto, diverte crianças sem destilar grandes pretensões enquanto obra de arte. Seria injusto compará-lo com produções da Disney, da Pixar ou até mesmo da DreamWorks, uma vez que as propostas são completamente diferentes. O que “Hotel Transilvânia 3” apresenta de melhor é ter noção disso e ser auto-contido, não enganar quem o assiste e cumprir com alguma eficiência aquilo que é.
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