Uma louca e amada viagem
Bom, quem nunca ouviu histórias sobre quão loucos eram os jovens e adultos nos anos 70/80 que atire a primeira pedra. A geração “sexo, drogas e rock n roll” tem muita história para contar. Principalmente das viagens alucinógenas. No caso de nosso filme, “How to Talk to Girls at Parties“, não sabemos dizer se foi desenvolvido sobre o efeito de alguma coisa, só podemos afirmar que é uma louca viagem. Por mais absurda que possa soar, a produção tem uma base muito sólida em sua mensagem. Aqui temos algo psicodélico para se falar de amor e igualdade.
No Reino Unido, do fim dos anos 1970, Enn (Alex Sharp), um jovem tímido e fã da nova febre punk, está pronto para se apaixonar. Ele e seus inseparáveis amigos, Vic (A. J. Lewis) e John (Ethan Lawrence), passam seus dias indo as aulas e depois curtindo a noite num porão comandando por Queen Boadicea (Nicole Kidman). Ela é uma artista punk que empresaria novas bandas do gênero caso ela goste muito. Certo dia, Enn e seu amigos estão procurando uma festa e é nessa ocasião que ele conhece a etérea Zan (Elle Fanning). Ela acredita que o punk vem “de uma outra colônia”, uma de muitas pistas de que talvez não seja desse planeta. Com o passar do tempo vemos o desabrochar de um romance de outro planeta entre Zan e Enn, trazendo uma história sobre o nascimento do punk, a exuberância do primeiro amor e o maior de todos os mistérios do universo: Como conversar com garotas em festas?
O roteiro escrito por Philippa Goslett e John Cameron Mitchell é dinâmico, divertido e não perde seu foco questionador. Baseado no conto de Neil Gaiman, temos aqui um exemplar que não “enrola” nem abduz seu público em diálogos de questionamentos sem fim. Ao retratar o romance e a descoberta de um jovem humano com uma garota de outro lugar, o foco vai para o arrojamento, simplicidade e praticidade. Obviamente, sem perder o leve tom de drama e muito humor ácido. Junto a direção de Cameron, vemos aqui uma despreocupação com a estética. Por condicionar uma ideologia jovial e transgressiva, ele procura desenvolver planos que sejam expressivos sem um rebuscamento visual. O máximo que vemos aqui são as sequencias em câmera lenta que perdem seus frames, como se fosse captado com um dispositivo em dellay. E a liberdade em se ter imagens com muitos pixeis a fim de texturizar. Ambos também são trabalhos e méritos da montagem de Brian A. Kates e da direção de fotografia de Frank G. DeMarco.
Jamais poderíamos deixar de comentar o figurino de Sandy Powell. Ela que foi a responsável pelos looks de produções como “Ganges de Nova Iorque” (2002) e vencedora do Oscar pelo figurino de “O Aviador” (2004) e “A Jovem Vitória” (2010) tem mais um trabalho estonteante. O primeiro ponto é visivelmente sua vasta pesquisa sobre uma ideologia artística em cima da vestimenta de cada grupo presente. Temos os britânicos em seu dia a dia, com muitas camadas de roupa e sempre em tons escuros. Temos a geração punk com suas peças “estranhas”, emaranhadas e uma ótima referencia ao ícone David Bowie com a caracterização de Kidman. E por fim a construção de identidades coloridas, bem típica a ideologia pop ufo dos anos 70, usando o vinil.
O elenco segue afiado e bem preparado para a apresentação da trama. Ainda pouco conhecido, Alex Sharp e sua interpretação de Enn cai na graça do público e segue como uma espécie de “galã feio”. Com muita simpatia e presença ele desenvolve uma ótima química com A. J. Lewis e Ethan Lawrence, seus amigos na trama, mas se supera com o romantismo para com a personagem de Elle Fanning. Ela por sua vez tem uma coisa que poucos atores tem: uma presença única que rouba a sua atenção. Com Elle em cena, você muitas vezes esquece sua beleza e até mesmo seu trabalho como atriz e, de alguma maneira, ela te hipnotiza em seus personagens. Já Nicole, não podemos dizer que está maravilhosa e/ou que fez um grande papel. Porém, sem dúvida, em bora seja pequeno, esse é um dos papeis mais divertidos de sua carreira. E isso sai da tela e atinge diretamente o expectador.
Se “How to Talk to Girls at Parties” fosse um filme nacional, ele com certeza não seria financiado e seus produtores seriam chamados de loucos. Mas como ele é uma produção estrangeira, acaba ganhando um ar “cult” e diferente. Bom, diferente de fato ele é. Com música, pitadas de drama e muito humor, o longa acaba sendo uma boa surpresa. O uso dos “aliens” humanos é só uma base muito boa para falar sobre igualdade, identidade, independente do gênero, e dialoga sobre opressão e suas escolhas como indivíduos. De uma maneira bem diferente do que estamos acostumados a produção nos arranca sorrisos e elogios de uma maneira genuína.
*Filme visto no Festival do Rio 2017. Ainda não há trailer oficial com legendas, nem data de estreia em circuito.
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