Em um trem de alta velocidade com destino à cidade de Busan, um vírus que transforma as pessoas em zumbis, se espalha. A cidade conseguiu com sucesso defender a epidemia, agora eles devem lutar pelas suas sobrevivências.
Invasão Zumbi corrobora a afirmação de que esse ano está sendo ótimo para os filmes de terror, além de trazer um gás para o já tão saturado subgênero de zumbis. O diretor Sang-Ho Yeon consegue dosar muito bem os clichês dos longas clássicos de mortos vivos, misturando-os com a criatividade e o frescor de novos elementos.
Os primeiros quinze minutos englobam todo o primeiro ato do filme. Sang-Ho o usa para manipular o espectador a seu favor, colocando um ou outro elemento sobrenatural em pequenas quantidades para pregar peças no público. Tudo isso faz com que fiquemos ansiando e desejando que essa Invasão Zumbi (do título nacional) aconteça. Além disso, nos apresenta ao herói do filme de uma maneira totalmente diferente. Não temos o herói loiro, branco e com a moral de acordo com os bons costumes. O herói Seok Woo, interpretado pelo Yoo Gong, é uma pessoa egoísta, mesquinha e acredita no dinheiro como a ferramenta primordial para se criar uma relação pseudo afetiva. A relação dele com a filha logo se mostra instável e auto destrutiva, muito bem representado pelo enquadramento do reflexo da chama dos prédios na frente de seus rostos apáticos.
Assim, quando o primeiro zumbi de fato aparece após essa apresentação, o filme não para mais um minuto sequer, nem um suspiro de alívio durante o resto da projeção. São cenas e mais cenas de tensão envolvendo os tripulantes do trem para a cidade de Busan. Por falar nisso, a tripulação, que tranquilamente ficaria como meros figurantes para morrerem em qualquer produção Hollywood, soa bem diferente aqui. Em Invasão Zumbi, o diretor, que também assina o roteiro, faz com que cada passageiro daquele trem seja um ser humano e que sua perda seja sentida ou comemorada pelo espectador. Ele dá a cada pessoa sentada naquele trem uma história, um objetivo e uma angústia. Inclusive, um exemplo forte são as duas irmãs que sempre aparecem brigando. Porém, ao se separarem, as duas trocam um olhar triste sempre que miram algum lugar vazio onde a outra poderia estar.
Mas, se tem algo que falha no filme, são os efeitos digitais. Claramente sofrente de orçamento, o longa não consegue se sustentar em seus efeitos. Ao início do terceiro ato, o filme fechado dentro do trem começa a tentar tomar proporções caóticas e grandiloquentes: trens desgovernados, manadas de zumbis caindo, e zumbis arrancando pedaços. Tudo isso é feito de forma arbitrária e com pouca preocupação. Por algum motivo, o diretor acredita que precisava disso para chamar mais pessoas para assistir ao longa. Contudo, isso nada mais é que um tiro no pé em um filme que até então se mostrava diferente dos outros.
Por fim, Invasão Zumbi ainda consegue fazer uma crítica incisiva à sociedade em geral, algo que o subgênero zumbi sempre realizou, mas vinha falhando miseravelmente. Todos os dilemas morais e os pensamentos egoístas são postos na mesa em cenas que vão desde pessoas impedindo outras de entrarem em um vagão por motivos hipócritas e banais (uma alusão ao caso dos milhares de refugiados em todo o mundo) até aquela em que o herói egoísta de outrora se vê trucidado pelo seu reflexo no vilão. Enfim, Invasão Zumbi não foge do conceito da indústria de Hollywood, mas o subverte diversas vezes durante todo o longa. Juntando velhos clichês do subgênero Zumbi com doses homeopáticas de inteligência e drama, o longa é uma metáfora ao pseudo relacionamento familiar moderno e a grande dose de egoísmo e apatia da sociedade atual.
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