Tem aquele texto do Bukowski Então Tu Quer Ser Escritor, Parça
if it doesn’t come bursting out of you
in spite of everything,
don’t do it.
unless it comes unasked out of your
heart and your mind and your mouth
and your gut,
don’t do it.
if you have to sit for hours
staring at your computer screen
or hunched over your
typewriter
searching for words,
don’t do it.
if you’re doing it for money or
fame,
don’t do it.
e eu tô aqui pensando se as palavras me andam saltando. se com empresa, contas, planos e cansaço eu sou mais a divina inclinação ou o poeta suado.
pouco importa.
aprendi, depois de uns bons 9.000 dias nesse planeta, que não é sobre a coisa. nem o quem.
é sobre o como.
todo mundo sabe que você fode, a pessoa vai embora e você fica chorando, e daí?
amanhã vai continuar igual. ah, você é do realismo fantástico, muito bem, qual é a sua releitura de predileção, quem vai voar hoje?
o que que vai explodir?
ninguém liga. já tem livro demais. o Christian Figueiredo também escreve. a moça do não se apega. quem não é escritor nesse quase 2017?
o que eu te pergunto não é se você é escritor ou é Clarice que morre de sede, é se você vê gente.
tem um verso de alguma coisa minha que de vez em quando pipoca:
saudade não dá em pé de couve
é só no homem que dá
morena, não deixa a saudade
não deixa a saudade ficar
nós escrevemos sobre gente.
você diz que prefere os animais, mas chama o cachorro de Guilherme, coloca roupinha e diz que é seu melhor amigo.
se bobear comemora o dia dos pais.
nós somos humanos mesmo quando horríveis. é por isso que fazemos essas barbaridades de inventar que não gostamos de gente. é porque doeu. aí você já se dissocia.
imagina se você descobre que o desprezo não se cura com a lambida do cachorro e que ele só tá ali porque não tem como, coitado.
eu acredito em gente.
justamente por esse tanto que não quer ser.
escrever é a minha forma de conectar. de olhar. de fuçar.
eu e os outros.
eu não sou escritora, eu odeio ter que me explicar com ai, sou escritora.
eu escrevo, meu parceiro, porque tenho interesse.
porque eu não me conformo. eu nunca entendo e eu quero entender. eu quero contar. que tem uma personagem minha que tem que mudar de cidade com urgência, não porque ela quer, é que não tem como. eu não quero o carro se transformando no robô, eu quero um prato a mais colocado na mesa e o esquecimento de uma perda. porque a vida é um café da manhã após o outro. eu quero que todas as minhas personagens se chamem Maria, porque Maria é todas as mulheres e nenhuma.
eu sou que nem Manoel de Barros catando as pequenitudes, só que em vez de olhar pro quintal, eu olho pro estômago.
você pode ler A Poética de Aristóteles, O Herói de Mil Faces, Story, sei lá, esgota a literatura. mas se você escreve, sabe, como avisou o nosso amigo rabugento Schope, que escritor é aquele que procura livro só quando tá vazio.
don’t be like so many writers,
don’t be like so many thousands of
people who call themselves writers,
don’t be dull and boring and
pretentious, don’t be consumed with self-
love.
the libraries of the world have
yawned themselves to
sleep
over your kind.
don’t add to that.
don’t do it.
unless it comes out of
your soul like a rocket,
unless being still would
drive you to madness or
suicide or murder,
don’t do it.
unless the sun inside you is
burning your gut,
don’t do it.
o perigo, aviso, é você ficar preocupado com Fitzgerald e não com o coleguinha do ônibus. porque você vai perder que a dor de corno do rapaz à sua esquerda que tá escutando gospel sem fone é diferente da dor de corno do motorista que separou da esposa após 13 anos e troca olhares com a cobradora através do espelho. aí você vai cair na armadilha de achar que é todo mundo igual. e você vai escrever coisas que não podem comunicar a ninguém, porque nem cruzaram a sua veia da pálpebra que treme de vez em quando. nine out of ten movie stars make me cry, I’m alive.
when it is truly time,
and if you have been chosen,
it will do it by
itself and it will keep on doing it
until you die or it dies in you.
there is no other way.
é, Bukowski, até pode ser, porque nunca vi quem escreve dizer que é brisinha. é esquisito pacas. a tal esquizofrenia socialmente aceitável. mas isso é mentira. escritor só é socialmente aceito se escrever bestseller e ficar na vitrine da Saraiva. fora isso, my dears, ah, é só esquisito.
mas se você quiser tirar o corpo fora, diz que é o tal gênio grego, que é visita, que é espírito. não conta que foi você, não. até porque se for bom ninguém vai acreditar mesmo.
and there never was.
Por Érika Nunes
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Caralho, quem foi a escritora desse banho de sangue sobre a tela?! Meu parabéns, o qual não vale de nada!