O longa metragem “Joaquim”, conta nada mais, nada menos do que a história de Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes.
É juntamente com todo o drama e ficção, uma história de amor, onde o protagonista, aqui interpretado por Júlio Machado (capataz Clemente de “Velho Chico”), se encontra diante de um grande amor, Preta (Izabel Zuaa), e corre com afinco atrás de uma promoção, em vista de alcançar a alforria de sua paixão, e é assim que começa a saga deste Inconfidente Mineiro.
Júlio Machado soube interpretar de forma simples e agradável o Joaquim, sem passar a imagem de coitado e mártir que todo brasileiro tem deste personagem, mostrando a humanidade de Tiradentes, assim também como teve papel essencial ao ser o narrador de toda a história, trazendo ao espectador a sensação de estar em uma conversa informal com o personagem, como o próprio autor disse, o segredo esteve em assumir um ” sentimento de esperança numa vida melhor, num país melhor, mais justo, mais igualitário” para encarnar o papel.
A obra já começa de forma impactante ao colocar a cabeça de Joaquim contando toda a sua trajetória, mas é esta a construção do roteiro que procura transmitir a quem assiste uma imagem diferente do que nos é representada do herói.
O longa desfaz toda a imagem mitológica que há sobre este pedaço da história de nossa país, mostrando assim que, Tiradentes, também foi um simples o Joaquim que se frusta, que mente, que trai, mas que além disto, que luta.
Antes mesmo de sua estreia, nas vésperas do feriado de Tiradentes, o filme já vinha sendo aclamado, concorrendo inclusive ao Urso de Ouro no “Festival de Berlim” deste ano, o que trouxe grande destaque para a obra.
Dirigido por Marcelo Gomes, o mesmo responsável por “Cinema Aspirinas e Urubus” e “Madame Satã”, o filme é uma tentativa de narrar a vida oculta desta personalidade da História do Brasil, já que são poucos os documentos oficiais que contam sobre sua vida. É uma obra de ficção, mas baseada em documentos históricos, tendo como referência a obra literária de Laura de Mello Souza, “Desclassificados do ouro: a pobreza mineira no século XVIII”.
Percebemos através da fotografia do filme toda esta pesquisa histórica em torno da produção, trazendo detalhes dos lugares por onde Tiradentes passou, viveu e lutou, mostrando as riquezas dos locais históricos de Minas Gerais, tendo como ponto de gravação a cidade de Diamantina, que ainda preserva toda uma arquitetura colonial e vasta natureza.
O mesmo podemos dizer sobre o figurino, muito bem montado por Rô Nascimento e fiel à época em que se passa, no Brasil do final do século 18, como as roupas com cores marcantes dos senhores e as roupas sujas e rasgadas dos escravos.
A Cultura Brasileira é bem traduzida na trilha sonora de Pierre de Kerchove, que por sinal também foi o responsável por toda a fotografia do longa, e, ora apresenta canções afros, como também indígenas, mostrando de forma sensível toda nossa miscigenação.
O roteiro buscar fugir um pouco do tradicional filmes de época e utiliza-se da técnica de ter alguém contando a história e voltando ao passado, da mesma forma percebemos que a direção tentou se diferenciar com a estratégia usada de filmar com a câmera na mão, levando o espectador a adentrar ainda mais o filme e a experiência cinematográfica e emocional que esse passa.
O filme não tem pretensão de ser uma biografia ou “hagiografia”, por isso é aconselhável tomar conhecimento da história de Tiradentes antes de apreciá-lo, porém, é uma boa oportunidade para reflexão sobre o Brasil e seu momento atual, já que retrata e até explica muito bem o contexto político e econômico pelo qual passamos.
Enfim, como diria Darcy Ribeiro em sua clássica obra “O Povo Brasileiro”: “Tiradentes não se acabou nem se acaba. Prossegue em nós, latejando. Pelos séculos continuará clamando na carne dos netos de nossos netos, cobrando de cada qual sua dignidade, seu amor à liberdade.”
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