A frustração é inerente ao ser pensante. A resignação perdura desde que a existência passou a ter inúmeros obstáculos que impedem a satisfação plena na sociedade moderna. Sabe-se muito sobre artes, sobre cinema e história, porém, poucos conseguem ser artistas, fazer seus filmes ou mesmo realizar algo importante que possa ser contato no futuro. O amor também é comum na sua romantização brega, o difícil é amar e ser amado de verdade, com ou sem a sensação de contos de fadas. O que resta é contemplar os feitos dos outros que já amaram ou criaram um livro, uma musica ou um longa metragem.
Em “L’Amour debout”, todos os personagens estão em Paris, cidade que foi e é a casa de realizadores e a morada dos amantes. As ruas de Paris transpiram esses fantasmas que incentivam e frustram àqueles que querem seguir caminhos parecidos. Se Léa (Adèle Csech), uma guia especializada em história, conta aos turistas as curiosidades impregnadas em cada prédio e monumento, Martin (Paul Delbreil) recém-formado em cinema, enxerga a sétima arte em todos os cantos, já que seus ídolos filmaram ali. Os dois tiveram um relacionamento em Toulouse no passado e se encontram novamente.
No entanto, parece que a única coisa que ainda possuem em comum é a indiferença em relação às suas próprias vidas e a falta de ambição com o futuro. Ela quer um relacionamento consistente e ele escrever um roteiro que possa ser produzido, além de ser capaz de escolher entre garotos ou garotas. No decorrer da projeção irão cruzar com inúmeras possibilidades e caberá a cada um seguir seu caminho, mesmo que seja o que deixará desejos pelo caminho. Afinal, é isso que acontece com todos os pobres mortais que pisam nessa terra.
O tom naturalista escolhido pelo diretor Michaël Dacheux só é ligeiramente alterado quando há as mudanças de estações (o longa é dividido em outono mais colorido, inverno em suas cores frias e primavera e verão quase alaranjados). Passa-se um ano em menos de uma hora e meia, porém, por causa dos longos e contemplativos planos, a narrativa se arrasta demasiadamente. As atuações não podem ser amplamente discutidas, pois seguem uma logica minimalista. Por isso, os atores não fazem mais do que ler o texto descrito no roteiro. Talvez Delbreil cause um pouco de empatia por lembrar (até na voz) David Schwimmer, o eterno Ross de Frieds e Csech pela doçura de suas feições. Os atores que dão vida aos personagens secundários não possuem tempo de tela suficiente para que possam fazer diferença com suas atuações.
Em ultima análise, “L’Amour debout” trata de frustações e recomeços e usa do banal para se dirigir ao se público. Esses que podem querer algo a mais de suas vidas e que pretendem visitar Paris para se inspirar. O problema é que essa visita pode não trazer frutos suficientes para que influencie o surgimento se um novo Eustache ou Goddard, mas pode unir pessoas que juntas apreciarão as obras de todos os mestres que já pisaram no solo sagrado da cidade Luz.
Essa crítica faz parte da cobertura da 42ª Mostra de Cinema de São Paulo
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