O romance “Licorice Pizza” é inspirado nas lembranças da juventude de Paul Thomas Anderson, e é por isso que a mocinha e o mocinho da história não possuem rosto perfeitos e corpos esculturais típicos das histórias de romance de Hollywood, que, na verdade, é representada por personagens malucos, cheios de vícios e vaidades. As pessoas comuns, inclusive, são constantemente acossadas ou enganadas por tais figuras. Com isso, a irrealidade da fama entra em conflito com a “realidade”, e quase sempre se sai vencedora. A vitória é até inevitável, já que mesmo aqueles do “mundo real” buscam a fábula hollywoodiana ou o sonho do sucesso pessoal, que pode ou não vir, como acontece com qualquer um que ainda não possua o nome na calçada da fama.
É preciso pontuar, contudo, que ao mesmo tempo em que roteiro de Anderson dá esses pequenos puxões de orelha em Hollywood, ele também usa dos artifícios da meca do cinema comercial para contar sua história. Claro, não daria para ser diferente, e até o próprio espectador espera e vibra com os encontros e desencontros do casal, as tentativas de partir para outra e até com aquelas batidas sequências que mostram os personagens correndo para se reencontrar depois de uma briga. Trata-se de um roteiro regado a humor, boas vibrações, otimismo e ingenuidade (no bom sentido). O colorido dos figurinos e dos ambientes auxilia no otimismo do roteiro, ainda mais porque a fotografia é permeada pelo amarelo do sol da Califórnia.
Tirando os clichês inevitavelmente charmosos, Anderson consegue bastante naturalidade em sua direção, que não é intrometida. Não se vê grandes momentos autorais em sua “escrita” fílmica. Até mesmo a montagem é discreta. O diretor preferiu que suas imagens fluíssem melhor sem a intromissão constante dos cortes. O lindo plano-sequência inicial que mostra como o casal se conheceu é um exemplo de suas preferências: ela aparece confiante e livre, sem sutiã e de minissaia. A mulher madura (a maturidade é proposta nesse início, mas depois se descobre que ela também sofre da mesma ingenuidade do rapaz) está de frente com o garoto que logo se apaixona. O sol bate nas lentes e ilumina os seus rostos. A química acontece! Anderson segue o esplendor em um travelling suave que só termina quando o primeiro encontro entre os dois está marcado.
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Evidentemente, os trabalhos da direção, roteiro e fotografia não funcionariam em suas plenitudes se as atuações de Alana Haim (Alana) e Cooper Hoffman (filho do falecido Philip Seymour Hoffman, e que interpreta Gary) não fossem excelentes. Os dois protagonistas são livres de qualquer técnica de atuação que pudesse atrapalhar a leveza de seus trabalhos, e entregam uma necessária naturalidade. A afetação fica a cargo dos personagens de Sean Penn e Bradley Cooper, que aparecem em momentos pontuais para criar alguns dos vários conflitos pelos quais passam o casal principal. Os dois nomes famosos cumprem seu papel, já que as maluquices e excentricidades que representam em tela servem para lembrar a Alan e Gary que a fabula do sucesso e da fama acabam impedindo que eles vivam o sonho do real, e isso é inaceitável.
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