Desde que os primeiros organismos antepassados do ser humano se formaram no planeta, não paramos mais de evoluir. Não só nossos corpos foram melhorando, o ambiente também se alterou como resultado. Milhões de anos se passaram para que pudéssemos ter um cérebro adequado para desenvolver consciência. Com toda a inteligência adquirida, formamos sociedades com leis e convenções. Essas leis eram para ser justas com todos os cidadãos que, afinal, fazem parte da mesma espécie. O problema é que a tal inteligência não trouxe apenas coisas boas. No pacote também veio, entre outras barbaridades, a ilusão de superioridade, o preconceito e o racismo.
Até tentamos superar esses desvios melhorando a educação e outros fatores sociais ao longo do tempo, o que surtiu algum efeito, mas parece que os pensamentos destrutivos sempre voltam à tona. São nesses pensamentos que o advogado Bryan Stevenson (Michael B. Jordan) esbarra ao tentar ajudar presos no corredor da morte em “Luta por Justiça”, filme dirigido por Destin Daniel Cretton, baseado em fatos ocorridos entre o final dos anos 80 e o meio dos anos 90. Stevenson, recém formado em direito por Harvard, volta para a sua terra natal, o Alabama, para disponibilizar auxílio jurídico aos presos, em sua maioria negros, que aguardam a execução na penitenciaria local. Um deles é Walter McMillian (Jamie Foxx), acusado de matar uma jovem branca.
Ao analisar o caso, o advogado percebe inúmeras inconsistências na investigação feita por um delegado racista e decide tentar um novo julgamento para McMillian, só que os pensamentos retrógrados de toda uma cidade cairão em sua cabeça. Como dito no início deste texto, a evolução da espécie aconteceu, porém ainda há resquícios de um passado inculto inserido no cérebro de uma boa parte dos indivíduos. É por causa deles que os brancos tentarão de tudo para manter o “negro inferior” no caminho da morte, mesmo que as evidências comprovem que ele é inocente. Não poderia ser diferente, pois à época, boa parte dos presos mortos na cadeira elétrica eram pobres e negros, e a maioria não possuía qualquer tipo de importância para a sociedade.
Bem, então é preciso dizer que, se no início dos tempos nós só evoluímos, da década de 90 à atualidade parece que não andamos nenhum passo em direção ao esclarecimento, já que a população das penitenciarias modernas continua sendo majoritariamente de negros e pobres, e em vários países no mundo ainda há a pena de morte, em alguns casos com técnicas quase medievais. Nos EUA, os condenados de hoje pelo menos estão livres da cadeira elétrica, que virou peça de museu, só que o tratamento do cárcere pode ser tão desumano que, para alguns, é preferível a morte, mesmo que seja pela injeção letal, forma mais “humanizada” do estado matar.
“Luta por Justiça” usa acontecimentos passados para falar sobre os EUA contemporâneo onde os direitos das minorias não são respeitados. O roteiro do próprio Cretton, escrito com Andrew Lanham (baseado no livro de Bryan Stevenson) discute de forma simples o racismo institucional e os meandros da justiça que admite sentença de morte. Isso através de um protagonista integro, que tenta fazer com que as leis sejam cumpridas sem excluir alguns brancos “cidadãos de bem”, que tentam desvirtuá-las. O texto não trás grandes feitos criativos, e acaba focando basicamente em descrever os acontecimentos. O mesmo pode ser dito da direção formal, que abusa de planos e contra planos para descrever os embates de pontos de vista, usa pouca profundidade de campo ou fundos com cores neutras com o intuito de expor o estado de espirito de personagens que se encontram sem horizontes, e prefere movimentos de câmeras discretos, que dão a falsa impressão de calmaria . Tudo em seu devido lugar para contar uma história importante, que talvez merecesse conceitos narrativos menos comuns para chamar ainda mais a atenção.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures
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