Esperto e astuto, o personagem Pedro Malasartes é um famoso integrante de contos populares. Trazido para o Brasil por imigrantes da península Ibérica, passou a figurar histórias divertidas nas quais sempre consegue uma forma de se safar de qualquer situação. Malandro, o sedutor Pedro tem o dom de se envolver em encrencas, e um dom maior ainda de sair delas. O personagem de origem humilde chega em nova roupagem às telonas, na qual encara um duelo com a própria morte.
Ambientado no sertão nordestino, o longa conta a forma divertida que Pedro Malasartes (Jesuíta Barbosa) se livra de uma dívida herdada de seu preguiçoso pai. Sabendo que em seu aniversário de 21 anos o seu até então desconhecido padrinho (sabidamente homem de posses) lhe daria um presente, Pedro tenta enrolar o cruel Próspero (Milhem Cortaz) na promessa de o pagar assim que conhecesse seu padrinho. O que o rapaz não imaginava é que o seu padrinho era ninguém menos que a Morte (Júlio Andrade). E que seu presente não seria um bem material, mas sim a chance de salvar três vidas. Um pouco insatisfeito, o rapaz aceita o presente e com esse dom se envolve em aventuras que colocam em prova sua inteligência e seu senso de justiça.
Apaixonado por Áurea (Ísis Valverde), mas incapaz de abrir mão de sua liberdade, Malasartes se divide entre seduzi-la, enrola-la e fugir do irmão da moça, o Própero (que não só quer o seu couro como proíbe o namoro do casal). A relação entre Áurea e Malasartes é gostosa de acompanhar tanto pelos divertidos textos que a embala, como pela boa afinidade entre os atores, garantindo uma sensibilidade na representação de uma relação pueril.
O pequeno elenco entrega, de forma geral, um trabalho na medida certa. Com uma abordagem caricata, a linguagem regional é bem desenvolvida, em um ritmo que não deixa o filme passar perto do tédio. O roteiro de Paulo Morelli somado às atuações fazem um longa ágil, como a cabeça do protagonista. Sobre o elenco vale o destaque para Milhem Cortaz que encarna um vilão inescrupuloso com uma comicidade pouco óbvia; e para Augusto Madeira, no papel de Zé Candinho, o ingênuo amigo do casal que passa por súbitas alterações de personalidade (muito bem encenadas pelo ator). Por outro lado, Leandro Hassun, que dá vida ao ajudante da Morte Esculápio destoa um pouco do contexto. Sua participação traz uma comicidade diferente, e em alguns momentos um pouco forçados (o que aqui não é sinônimo de caricato).
A linguagem adotada comunica rapidamente com o público, fazendo com que, mesmo sendo o herói um tanto “trambiqueiro”, seja quase impossível não torcer por ele e por seu futuro com Áurea. A trilha sonora auxilia esse envolvimento na atmosfera regional e ensolarada criada. E o contraponto – o submundo onde habita a Morte, Esculápio, a cortadeira (Vera Holtz), e a tecedeira e a fiandeira do destino (Luciana Paes e Julia Lanina) – tem em seus efeitos e sons o extremo oposto da vida terrena, sendo sombrio, mas dentro do óbvio. No entanto, de forma geral, a direção de fotografia e arte desempenharam um trabalho interessante.
Um risco bem corrido neste longa são os efeitos especiais. O resultado final não é impecável, mas também não deixa a desejar.
Os figurinos também merecem o seu destaque devido à atenção aos detalhes. Trazendo referências do cordel na esfera da vida, e na da morte trazendo um misto de encanto e requinte para Zé do Caixão não botar defeito.
Direção de Paulo Morelli traz um filme encantador, com bom ritmo, elenco afinado e estética agradável. Uma boa opção para ver em família.
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