O conto dos irmãos Grimm, “Hansel e Gretel”, em português “João e Maria”, já possui algumas adaptações audiovisuais. Em uma das mais recentes recebeu uma roupagem de filme de ação, com os dois adultos. Pode-se discutir a qualidade dessa reimaginação, mas não sua iniciativa em tentar algo fora do comum, levando em consideração as outras versões da história lançadas no passado. Pelo mesmo caminho segue “Maria e João: O Conto das Bruxas”, produção independente dirigida por Oz Perkins. Dá para perceber a vontade de ser diferente a partir do título, que coloca o “Maria” na frente para apontar o total protagonismo da personagem e a mudança de sua jornada.
De fato, a trama foi desenvolvida tendo Maria (Sophia Lillis) como a agente da ação (por isso protagonista), deixando João (Samuel Leakey) em segundo plano. Para contextualizar, a história segue os irmãos que, após serem mandados embora de casa pela mãe, são obrigados a viajar por uma floresta cheia de mistérios. O primeiro que eles encontram é uma criatura que dorme em uma casa abandonada e que tem em sua cola um caçador. Há ainda figuras fantasmagóricas que aparecem durante a noite, e por último uma estranha mulher que vive em uma cabana no meio da floresta. Ela, estranhamente, oferece uma grande fartura de comida, mesmo não tendo os recursos necessários para produzi-la.
Quem conhece o conto ou os outros filmes sabe que a tal mulher é uma bruxa que quer os irmãos como alimento, só que em “Maria e João: O Conto das Bruxas”, os rumos são um pouco diferentes. Ela realmente quer se alimentar, mas apenas de João, já que Maria possui habilidades especiais que são percebidas pela bruxa, que vê aí, aparentemente, uma oportunidade de conseguir uma substituta ou de obter mais poder. Para isso, é claro, Maria terá que abdicar da vida de seu irmão ou, dizendo de outra forma, se libertar das amarras que a mantém como uma misera mortal. É até interessante o conflito da garota. Ela é seduzida pelos poderes, porém não quer se afastar do único membro de sua família. O problema que afeta tudo isso é a forma como roteirista Rob Hayes desenvolve seu texto.
Bom, para resumir, basta dizer que o roteiro é confuso. Os Personagens não são bem definidos. Afinal, o que a Bruxa queria? Uma substituta ou um upgrade? Por que a mãe expulsa os dois de casa? Maria sabe dos seus poderes quando percebe que consegue conversar com as plantas e com os animais, no entanto acha que os sonhos premonitórios que começa a ter quando chega à cabana são simples sonhos e não avisos sobrenaturais. O que era a criatura que o arqueiro mata para salvar os irmãos? Por que Maria possui tais poderes? Muitas perguntas que não são respondidas claramente. Além disso, a relação com o irmão é artificial, não gera qualquer tipo de interesse. João, inclusive, não tem função além de ser alguém que precisa ser salvo para gerar alguns momentos de aventura. Para completar, há uma desnecessária narração em voz over que descreve o que já está sendo mostrado na tela.
O que resta é uma boa direção de fotografia que transforma a floresta em um personagem a parte. A dimensão das arvores são ampliadas, deixando-as enormes, o que cobre a luz e deixa tudo nas sombras. Mesmo durante o dia, há uma espécie de véu obscuro que cobre as cores da vegetação – porém nada a mais do que se acostumou a fazer em filmes medievais de terror em mais de 100 anos de cinema. Com tanto tempo, há um banco de dados extenso, contendo filmes que serviram de referência. A direção, em contrapartida, abusa das câmeras presas aos corpos dos atores com o objetivo de mostrar seus delírios e o quão confusos estão, ou mesmo para criar takes desconfortáveis.
A edição e a mixagem de som, por sua vez, são competentes ao criar e inserir o ruído dos estômagos das crianças em alguns momentos durante a projeção. Os roncos são ouvidos mesmo com os diálogos e os outros sons ambientes. Esse é um artificio importante para deixar o público perceber a fome que estão sentindo, o que torna ainda mais plausivel a sedução que sentem pelo banquete que lhes é ofertado.
Para finalizar, “Maria e João: O Conto das Bruxas” é um filme apressado, a sua conclusão não possui peso. Não há o último impacto porque o clímax é incapaz de elevar a ansiedade do espectador para o embate ou as revelações finais. Talvez, uma polida a mais no roteiro amenizaria os defeitos e deixaria as interessantes intenções dos criadores um pouco mais evidentes.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Imagem Filmes
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