A vida fora da caixinha
Com estreia prevista para o dia 12 de janeiro, Ma Loute, traduzido para o português como: O Mistério da Costa Chanel, é uma filme francês que se passa no início do século XX e tem como pano de fundo o desaparecimento de pessoas na cidade Pas-de-Calais, no norte da França.
[Como curiosidade: O título original é homônimo de um dos personagens, e é de suma importância que seja enfatizado. Busquei uma tradução para tal alcunha, pois não havia entendido o porquê de dito personagem virar chacota toda vez que se apresentava. O fato é que “ma loute” vem do ch’ti, que é uma forma muito particular de se falar na região onde o filme é ambientado. Ela é designada única e exclusivamente para o sexo masculino e equivale ao nosso “cara”, como por exemplo: “eu conheço um cara…”
No filme, isso vira uma espécie de piada interna e até justifica a originalidade do título se você é um exímio conhecedor do idioma francês (o que não é o meu caso.). Mas ao ser traduzido ao português, não seria passível de entendimento e o sentido de escárnio acabaria se perdendo.].
O Mistério da Costa Chanel é uma produção para quem quer “pensar fora da caixinha”. Ele tem diferentes conversas com o público. E talvez não seja facilmente entendido em uma primeira mão. Quem assiste precisa estar consciente de que tem que caminhar junto com a obra e os seus personagens, ou então, vai se perder no enredo e o filme acabará se tornando muito sacal.
A direção é de Bruno Dumont; um diretor que é bem conhecido por ser mais áspero em suas obras (o que definitivamente não aconteceu aqui.). Dumont permitiu-se jogar com um humor quase alegórico e satírico. E você percebe isso do início ao fim. São tantos clichês e estereótipos, que cada personagem foi montado de maneira muito peculiar.
No elenco, temos nada mais, nada menos, que a diva Juliette Binoche, que dá um show de interpretação e se permite “ser” o tempo inteiro. Juliette é a atriz mais bem paga do cinema francês e foi consagrada como a enfermeira Hanna em seu papel no filme “O paciente inglês”, o que lhe valeu o Óscar de melhor atriz coadjuvante, vale lembrar.Além de Binoche, contamos com: Brandon Lavieville, Fabrice Luchini, Jean-Luc Vincent, Valeria Bruni Tedeschi. E eu até poderia falar mais desses atores, no entanto, não os conhecer (à priore) faz parte do clímax do filme. E ninguém está aqui para dar spoiler.
Outra coisa interessante é a fotografia. Como o filme se passa na costa de uma pequena cidade francesa (no início do século XX e isso sim, faz diferença), tudo tem um tom mais pastel, mais puxado para o bege. O verde não é tão verde, o azul do mar “não é azul”. E vale a pena que isso seja salientado, porque a fotografia conversa exatamente com o tipo de história que está sendo contada.
O enredo, bem; é marcado por dualidades. Temos a família rica versus a família pobre. O gordo e o magro, que facilmente poderiam ter sido criados por Larry Harmon, e David L. Wolper (criadores da série “O Gordo e o Magro”), menino versus menina, e por fim, o amor e o ódio.
Como o próprio título já diz, O Mistério da Costa Chanel é mesmo um mistério. Ele consegue levar ao século XX discussões presentes hoje em dia como ideologia de gênero, preconceitos enraizados, problemas comportamentais, os estereótipos de classes sociais e etcetera-e-tal.
E por último, mas não menos importante, destaco o humor-negro como tudo é narrado e o realismo-mágico, que se faz presente em muitas obras latinas, e agora dá as caras na França.
É um filme que se devora. (Com E sem duplo sentido).
[Ps.: Agradeço ao Professor/Pesquisador (e amigo!) Carlos Prado (o exímio conhecedor do idioma francês) por ajudar-me na tradução do título. Sem a sua ajuda eu não teria entendido a piada.].
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