“Moonlight: Sob a Luz do Luar” começa mostrando, em um belo plano sequência, um garoto fugindo de vários “valentões” do colégio. Ele, a fim de se esconder, entra em um quarto usado por traficantes de drogas, e é onde conhece Juan (Mahershala Ali), o dono da boca, que se tornará seu mentor e uma espécie de figura paterna (A cena em que Juan banha o garoto no mar, como um batismo, é a síntese dessa paternidade). Esse início resume o que será da vida do garoto dali em diante: em muitos momentos ele se esconde dos outros, esconde seus sentimentos e desejos; tenta escapar de seu passado assim que o amadurecimento chega, mas, faz parte de um ambiente que, com seus maus e bons momentos, molda-o como indivíduo.
Barry Jenkins constrói em três atos um estudo de personagem, mostrando a infância, a juventude e a fase adulta do garoto chamado Chiron. Os três atos são divididos como capítulos: i.little, ii.little e Black. Os atores que interpretam as três fases são competentes em desenvolver um personagem apoiado em expressões corporais, quase pantomímico. Os sentimentos demonstrados por essas, são potencializados pela direção e pela fotografia, que prezam pelos planos fechados, às vezes com rostos enchendo a tela.
A vida no gueto é brutal, principalmente nas cenas onde a mãe de Chiron está presente. Ela, quase em estado catatônico devido o uso de drogas pesadas, mal sabe o que acontece na vida do filho. Chiron se refugia na casa de Juan, onde consegue o mínimo de complacência, mesmo sendo Juan o traficante que vicia a sua mãe.
O filme possui elementos de tragédia, no entanto, mesmo ambientado em cenários de periferias perigosas, se afasta o máximo que pode das cenas de violência gratuita, não transformando seu personagem principal em um arquétipo. Há duas cenas dessa durante a projeção, e elas possuem significado para trama e trazem suas consequências.
Um meio violento só pode gerar pessoas violentas, já disseram alguns, mas não é o que acontece com Chiron, que, mesmo seguindo os passos de Juan e também se tornando um traficante respeitado por sua influência e postura, possui dentro de si uma extrema sensibilidade que tenta não demonstrar, mas que aflora naturalmente. Aqui temos a figura do macho supostamente perigoso que tem em sua alma os delírios homossexuais nunca realizados com um antigo colega de colégio. Chiron descobre sua sexualidade já na adolescência, mas a reprimi para poder sobreviver em uma selva sem leis. Com o encontro com o tal amigo já adulto, ele não consegue ficar dentro da carapaça inventada e se entrega em sentimentos. Até a trilha sonora traz o embate entre o bruto e o sensível, revezando os Raps dos negros americanos com músicas sentimentais, como a canção “Cucurrucucu Paloma” de Caetano Veloso. Chiron começa como uma peça de barro e vai sendo moldado com os tapas e afagos que a vida lhe dá e, mesmo aos trancos, consegue se transformar em um ser acima do estabelecido por aquela sociedade em que vive.
“Moonlight: Sob a Luz do Luar” é um bom drama que está no nível dos filmes indicados ao Oscar de 2017. Poderia até ganhar, não fosse a maior publicidade de seus concorrentes, pois, como os outros, não consegue ultrapassar a média.
Como nota, preciso dizer que “Moonlight: Sob a Luz do Luar” recebeu oito indicações ao Oscar, sendo uma delas a de ator coadjuvante para Mahershala Ali. Essa indicação não consigo entender, já que se trata de uma participação breve do ator, sem nenhum destaque em seu desempenho.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.