O documentário francês “No Adamant” conquistou o cobiçado Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano ao apresentar o trabalho de psiquiatras e psicólogos em uma instalação erguida a bordo de uma embarcação ancorada às margens do Sena, em Paris. Nessa singular clínica, afiliada a um dos hospitais da cidade, adota-se uma abordagem não convencional para tratar indivíduos que enfrentam doenças psicológicos. Os especialistas empregam a arte e a interação entre os pacientes como meio de terapia, encorajando-os a expressar suas emoções, visando à recuperação de suas aflições.
O filme, sob a direção de Nicolas Philibert, apresenta uma narrativa simples e direta em sua concepção. Sem interferências da câmera ou daqueles que estão atrás dela, os pacientes dispõem de um espaço amplo para se expressarem, mesmo que suas palavras possam parecer ininteligíveis aos espectadores menos atentos à visão dos realizadores. O roteiro, redigido pelo próprio Philibert em colaboração com Linda De Zitter, almeja estabelecer uma conexão genuína entre o público e os personagens. Além disso, o filme não faz qualquer julgamento. Sua aspiração é estimular a compreensão em relação às tribulações daqueles que já foram marginalizados pelo convívio social convencional. Também busca ilustrar o potencial terapêutico intrínseco nas formas de expressão artística, como cinema, fotografia, música e dança, bem como a onipresença da poesia na vida cotidiana.
As intenções de “No Adamant” são, sem dúvida, nobres, mas é imperativo reconhecer que esta obra pode ser desafiadora para alguns devido à sua aparente escassez de “ação”. A contemplação proposta pela narrativa, bem como as experiências compartilhadas pelos personagens, é de profunda beleza e relevância, no entanto, isso não impede que, em vários momentos, se tornem monótonas. Essa característica justifica a saída de diversos espectadores da sala de projeção durante a sessão e as ocasionais manifestações de sono e ronco, que ressoaram por toda a sala de cinema. Claro que as qualidades do filme não são simplesmente apagadas devido a sua falta de ritmo, no entanto, ficará difícil que um público amplo seja atingido, já que uma parte considerável das pessoas hoje em dia não consegue se manter parado em algum lugar contemplando o que quer que seja, infelizmente para o filme e também para a sociedade. Contudo, para aqueles que buscam uma experiência mais orgânica e que se deixam envolver pela proposta de contemplação, “No Adamant” se revela uma escolha acertada.
Este filme foi exibido durante a 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.
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