Dos cineastas que têm se destacado nessa década, um dos mais interessantes é Jeremy Saulnier, o diretor e roteirista responsável pelos thrillers pessimistas e bem característicos “Ruína Azul” (2013) e “Sala Verde” (2015), que apesar de não terem sido muito populares, a resposta da crítica foi sempre positiva. Por causa disso, “Noite de Lobos”, seu novo longa, conseguiu distribuição mundial através da Netflix, porém, mesmo sendo uma produção bem executada, falha em alcançar as expectativas traçadas por seus antecessores.
Se passando em uma vila isolada no interior do Alasca, a trama se inicia quando Russell Core (Jeffrey Wright), um escritor e naturalista, é chamado ao local por Medora Slone (Riley Keough) para matar uma alcateia de lobos que é responsável pelo desaparecimento de três crianças, incluindo seu filho. Porém, o que Core descobre em suas investigações revela que o caso se trata de um assassinato e, agora, ele tem que cooperar com o chefe de polícia (James Badge Dale) para encontrar o culpado antes de Vernon Slone (Alexander Skarsgard), o pai vingativo da vítima.
Logo nos primeiros minutos, Saulnier estabelece a atmosfera predominante do filme de isolamento, utilizando muito de planos gerais que mostram a imensidão de neve e natureza que cerca o vilarejo onde se passa a história, de um modo bastante similar ao que Taylor Sheridan realizou em “Terra Selvagem”. Mérito esse também da fotografia de Magnus Nordenhof, que registra as belas paisagens do Alasca com um tom soturno, além de aproveitar bem a escuridão do estado, um tema recorrente na produção.
A direção também se destaca nos detalhes que caracterizam os seus personagens, como um plano em que Medora olha de Crone, que acaba de chegar em sua casa, para uma foto dele em um livro, dizendo que ele não é exatamente o que ela esperava. Outro elemento recorrente nos longas de Saulnier que não decepciona é a violência pontual e repentina, já que a produção apresenta muitas viradas na trama em cenas brutais, que utilizam de efeitos práticos sangrentos, mas não exagerados.
O que distancia esse longa dos últimos trabalhos do cineasta é o roteiro, que dessa vez foi escrito por Macon Blair, o ator e roteirista que é um colaborador de longa data de Saulnier. Enquanto seus outros filmes têm um uma visão cínica do mundo com a sua violência gratuita e tramas de vingança supérfluas, “Noite de Lobos” é mais ambicioso em seus comentários sobre a natureza humana e a escuridão, mas acaba perdido em suas alegorias, que nunca são muito desenvolvidas em um enredo que acaba de maneira bastante anticlimática.
Parece que o diretor tentou fazer algo um pouco diferente, já que muitas das suas características – como o realismo da trama e a má sorte dos personagens – são mais controladas, dando mais espaço para o desenvolvimento emocional. O problema vêm quando, mesmo com esse esforço, os personagens principais continuam bem monótonos. Isso é justificável para o veterano de guerra interpretado por Alexander Skarsgard, mas o protagonista de Jeffrey Wright além de não demonstrar muito sentimento, também não faz muita coisa na trama e várias vezes parece um coadjuvante no próprio filme. A falta de um objetivo claro para os dois também é prejudicial, já que nunca se entende o motivo de suas ações em cada cena do longa.
“Noite de Lobos” não é um filme ruim, já que sua técnica é impressionante e seus momentos pontuais de ação parecem calculados para causar a maior surpresa e tensão, mas que também é bastante arrastado, com algumas cenas desnecessárias e personagens que, no fim das contas, não são muito interessantes. É um longa sólido, mas que falta a visão das obras passadas do diretor.
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