O cinema francês contemporâneo é extremamente interessado em relacionamentos humanos, principalmente quando esses se passam em Paris. A cidade luz acabou se tornando, na verdade, uma personagem em cada um dos romances e dramas familiares que foram filmados em suas ruas. O mais novo exemplar a usá-la é “Noites de Paris”, que é dirigido por Mikhaël Hers, e estrelado por Charlotte Gainsbourg.
“Noites de Paris” é sobre uma família constituída pela mãe Elisabeth (Gainsbourg, em uma atuação sensível) e pelos filhos Mathias (Quito Rayon Richter) e Judith (Megan Northam) que são abandonados pelo pai. A mãe acaba caindo em uma profunda tristeza após a separação, e ainda precisa começar a trabalhar para sustentar a casa. O problema é que ela nunca teve um trabalho, já que cuidava dos afazeres domésticos durante toda a sua vida como casada. As coisas complicam ainda mais com a chegada de Talulah (Noée Abita), uma andarilha viciada em drogas que acaba sendo recolhida pela família e pela qual Mathias se apaixona.
São os anos 80, então a fotografia usada por Hers é granulada, e suas imagens até parecem um pouco fora de definição. Para complementar o estilo narrativo, são inseridos vários takes de transição que mostram a real Paris de quarenta anos atrás. É neste cenário nostálgico que os encontros entre os personagens se desenrolam. Entre idas ao cinema e passeios pelas ruas, o amor reaparece para cada um deles, seja na figura de um amante ou mesmo na realização política.
O encontro com esses novos amores é o que há de melhor em “Noite de Paris”, mas também acaba por torná-lo ingenuamente otimista em sua definição de mundo. Até há, em seus momentos derradeiros, um vislumbre de que algo dará errado no futuro daqueles personagens, no entanto, um único frame acaba por consertar tudo para eles.
De certo, quando alguém vai ao cinema casualmente, ele espera ver filmes com finais otimistas ao estilo Hollywood, e não histórias pessimistas que poderiam jogá-lo ao mundo real do qual ele acabou de vir e para o qual ele terá que voltar após os créditos finais. Não se pode julgar esse espectador por suas preferências, mas cabe aos cineastas criarem um cenário que pelo menos dificulte a chegada a esse final feliz. Assim a obra ganha um conteúdo artístico mais vistoso. No entanto, os obstáculos impostos pelo roteiro de Maud Ameline, Mariette Désert e Mikhaël Hers a seus personagens deixam com que tudo se realize magicamente e positivamente, e isso, infelizmente, tira do texto qualquer tipo de tensão que ele poderia transmitir.
“Noites de Paris” foi visto durante o Festival de Cinema do Rio de Janeiro 2022.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.