Do mesmo autor de “Os Tradutores”, “Esperando Bojangles” chega ao Brasil dia 3 de novembro como um presente aos apaixonados; uma não tão típica histórica francesa sobre amor e dedicação perante as dificuldades. Confira nossa crítica sem spoilers.
Um romance à francesa… mas será mesmo?
Quem chega desavisado em “Esperando Bojangles” deve ter uma primeira expectativa clássica sobre o longa: “mais um filme francês de casal excêntrico?” e, bem, o que não deixa de ser uma verdade – e é neste momento que somos despistados pela primeira vez.
Um amor arrebatador e puro que o restante do mundo não está preparado para compreender? A esmagadora e implacável monotonia do dia a dia? Não é como se não fôssemos bombardeados com isso desde pelo menos 1800.
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Em “En attendant Bojangles” o público é convidado a conhecer as divertidas esquisitices de Georges (Romain Duris) e Camille (Virginia Efira) ao longo da primeira parte do filme, e é dessa união que nasce seu filho, Gary (Solàn Machado-Graner).
Pequenas pistas são fornecidas à audiência sobre uma das abordagens filme, o que o diretor Régis Roinsard soube fazer de melhor. Cada cena é, por mais que absurda, extremamente real: as atuações estão impecáveis, cruas e conseguem transmitir o calor (e o desespero!) diante da progressão da, digamos, insanidade.
Viagem a um lugar que ainda não sabemos
Adaptado do best-seller homônimo, o detalhe que talvez faça saltar aos olhos é que, originalmente, Gary, um garoto com não mais de 12 anos, é o narrador da história, o que oferece todo um outro verniz que se optou por não levar às telas.
A razão para esse apontamento é que, ao longo da trama, a sensação é a de uma falta de conexão, ao menos em sua primeira parte. Isso não é necessariamente algo ruim, e tampouco uma exata novidade narrativa. A impressão é que essa escolha possa ter sido um mecanismo para compensar a perda de destaque de Gary, quem contaria a história.
A sequência final de Esperando Bojangles é como um filme completamente diferente, porém que se explica; não é uma narração em retalhos, antes disso: são como fotografias em ordem, mas não necessariamente exploradas ao seu melhor. Em outras palavras: não se trata de uma narração que o espectador precisa brincar de reordenar, mas reconstruir lacunas entre as cenas será necessário.
Por causa disso, seria pertinente perguntar se focar no filho dividido entre os pais em crise não seria uma abordagem mais interessante (como em “Pelos Olhos de Maisie“, de Henry James), entretanto, a condução dos acontecimentos leva a um desconcertante (e provocante) final, que também de uma estranha forma é reconfortante: não podemos dizer que Roinsard não foi ousado.
Em uma última análise, a primeira metade também pode ser dividida em dois momentos: antes e depois de Gary. A segunda, muito mais difícil de assistir, é um áspero conto sobre degeneração de saúde mental — quiçá até de mau gosto — que há de ressoar até nos mais insensíveis; é doloroso reconhecer a humanidade presente nas cenas de crise.
Por falar em crise, não deixemos de mencionar que a canção “Mr Bojangles”, que dá nome ao longa é repetida por mais vezes que o agradável. É um leitmotif que não chega a ser exaustivo, porém muito menos beira a genialidade.
Sentimentos de um clássico instantâneo
Não é fácil trabalhar com previsões, fazer afirmativas categóricas sobre, como por exemplo, se uma obra irá envelhecer bem ou não. Esperando Bojangles, porém, é desses trabalhos que nos limites de uma sutil ousadia deixam uma sensação de angústia após seu fim: o que eu faço agora que acabou?
É verdade que só o tempo irá dizer seu julgamento, mas se Waiting For Bojangles deixa de marca é de uma visível paixão e comprometimento com o cinema. Em uma época que as palavras não mais bastam, e mesmo o surreal está saturado, são poucos os que são capazes de entregar a magia de como se fosse a primeira vez.
O saldo final é positivo, definitivamente uma experiência que os cinéfilos de plantão deveriam ficar de plantão. Se por vezes vacilando no storytelling, a adaptação entrega visuais deslumbrantes e um conteúdo envolvente. Esperando Bojangles estreia 3 de novembro de 2022 em todo o Brasil, distribuído pela California Filmes.
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