Tensão pré-nupcial
Manter uma relação saudável com ex-parceiros é algo que pode fazer muito bem ao coração. No entanto, isso só é possível quando nada ficou pendente ou mal resolvido entre as partes. “O casamento do meu ex”, apesar do título em português nos fazer pensar em comédia, é na verdade um drama em que Laura (Katie Holmes) comparece ao matrimônio de seu antigo namorado Tom (Josh Duhamel) não como mera convidada, mas como uma das madrinhas da noiva, Lila (Anna Paquin), sua amiga dos tempos de faculdade.
Na véspera da cerimônia há um jantar reunindo o antigo grupo de amigos chamado “Os românticos”. Evento no qual todos parecem exagerar na bebida e alguns fazem discursos constrangedores. A atmosfera não parece ser de festa e sim de tensão velada. E durante a noite, enquanto a noiva se recolhe no quarto, os demais preferem mergulhar nas águas que banham a rica propriedade à beira-mar onde será realizado o casamento ao ar livre.
O noivo desaparece em seguida e os casais trocam de parceiro para fazer a busca – o que pode ser um risco levando em conta as garrafas esvaziadas ao longo da noite. Embora todas essas situações sejam propícias a envolver o espectador, algo falha na direção tornando tudo superficial e desinteressante. Os personagens não se mostram o suficiente para que se possa ter alguma opinião sobre eles; exceções talvez sejam Tripler (Malin Akerman) e Chip (Elijah Wood), mas este último apenas porque desde o início já é rotulado como problemático.
Não há muita química entre Katie Holmes e Josh Duhamel e não se entende muito bem quem terminou com quem; apenas percebemos a mágoa e o amor que ainda existem da parte dela. Seriam as falas de Tom realmente sinceras no seu arrependimento ou apenas uma mistura de bebedeira com pânico pré-nupcial? As cenas em que cada elemento do casal desfeito está sozinho são mais interessantes e intensas – principalmente as de Laura – do que a tardia discussão de relacionamento que acabam tendo. Falta liga também nas relações do grupo: não parecem ser pessoas que estudaram juntas e conviveram intensamente durante anos ao ponto de receberem a alcunha de “Os românticos”. Talvez o tempo tenha esfriado as coisas, mas poderia haver no filme uma energia maior.
Anna Paquin atua de forma muito interessante. Sua personagem parece uma menina mimada ao se aninhar nos braços do noivo, mas também é forte e cortante em suas falas. O momento de confronto entre Lila e Laura torna-se mais impactante com o uso de um recurso que ocorre em outras situações de forma bastante positiva para o filme: a câmera na mão. Ela é responsável pela tensão em algumas cenas e pela sensação de desconforto em outras – o que a direção de Galt Niederhoffer (também responsável pelo roteiro, adaptado de seu próprio livro) parece não ter força suficiente para proporcionar. A impressão é de que não se vai muito além da superfície. No entanto, o caminhar para o final é bem mais interessante, inclusive no uso da trilha sonora, que até então não apresenta muito brilho.
Na ambientação predominam os tons pastéis. A casa é decorada num estilo antigo, mas tudo parece bem conservado. No exterior, também há a predominância de tons melancólicos e apagados. Ainda que a natureza ao redor seja bela, não há cores intensas. Cria-se assim uma atmosfera que confirma que embora uma celebração esteja prestes a acontecer, há algo pairando no ar, ofuscando a felicidade que deveria ser a tônica do momento.
“O casamento do meu ex” poderia ter ido mais longe, mas se assemelha a um rascunho de ideias mal aprofundadas. Fica a sensação de que faltou alguma coisa, como um prato bem apresentado que se revela insosso no momento da degustação.
Neuza Rodrigues
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