É grande a importância de um filme como “O Jovem Karl Marx” em um mundo cada vez mais pendendo para a direita radical. Muitos que apoiam indivíduos como Donald Trump ou mesmo Jair Bolsonaro confundem os conceitos do comunismo com ditaduras retrógadas como a da Coréia do Norte e da Venezuela. Então, preferem apoiar o populismo desses ditos salvadores da pátria do que os “sujos comunistas”; assim mesmo, como se dizia na época da guerra fria. Só é uma pena porque o longa de Raoul Peck será restrito aos cinemas de arte depois que passar pela mostra e não atingirá uma parcela grande da população.
Como o título entrega, os primeiros passos de Marx junto com seu amigo Friedrich Engels são esmiuçados pelo roteiro. Ficamos a par da vida desses homens e dos motivos que os levaram a pensar uma nova forma de organização social em contrapartida ao vigente capitalismo. Figuras como Mikhail Bakunin e Pierre Proudhon dão as caras para enriquecer ainda mais os ideais que serão base para o início da luta de classes. Vemos as agruras de Marx para expor suas ideias ao mesmo tempo que tenta sustentar sua família, assim como a angustia de Engels em fazer parte da classe industrial rica.
Falado em inglês, alemão e francês, a verborragia impera em um roteiro que precisa, em pouco mais de uma hora e quarenta de duração, explicar teorias e apresentar inúmeros personagens. A legenda atrapalha em alguns momentos se caso o expectador não conheça nada do que está sendo explicado ou mesmo não saiba pelo menos o básico do inglês. Mas nada que atrapalhe o propósito da obra. A ambientação de época é fiel, apesar de ser minimalista. Por isso não espere grandes passeios por Paris de 1844. Tudo é encenado em apartamentos e bares, o que provavelmente aconteceu de fato.
August Diehl traz um Karl Marx com explosões de arrogância e que tinha na convicção uma de suas maiores virtudes, enquanto Stefan Konarske faz de seu Friedrich Engels um ser gentil, que parece ter vivido em prol da genialidade do amigo, mesmo que seus escritos tenham sido tão geniais quanto.
Academicamente filmado, “O Jovem Karl Marx” não pretende ser tecnicamente arrojado e sim ser um manifesto audiovisual. A câmera não tenta endeusar os personagens, ela sempre fica parcialmente afastada, em plano americano. O preto e o cinza das vestimentas, assim como os ambientes escuros da fotografia só são contrastados quando uma bandeira vermelha é estendida no lugar onde foi formada a primeira associação de trabalhadores. A confecção do Manifesto Comunista é para onde converge a narrativa e é a partir dele que eclodiram, em 1848, revoluções em toda a Europa – a chamada primavera dos povos. Frases do manifesto são narradas, enquanto pensamos no que mudou de lá para cá. É utópico pensar em uma sociedade socialista na nossa realidade moderna, mas é necessário que Marx e Engels sejam lidos e entendidos, para que um pouco deles se infiltre em nosso dia a dia. Será possível?
https://www.youtube.com/watch?v=-N6FZy8MGEE
* Filme assistido na 41ª Mostra de Cinema de São Paulo. Até o lançamento dessa crítica ainda não tinha uma data de estreia definida para o Brasil.
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