Um homem se encontra em um quarto escuro, cheio de culpa e com a consciência pesada. O homem anseia por algo que o alivie da culpa, uma porta se abre e dela surgem sua mulher e filho, com eles uma luz na escuridão. É esse o nível de metáfora visual que trabalha “O Nome da morte”.
Júlio Santana (Marco Pigossi) é um pai de família, um homem caridoso, um exemplo para sua família e um orgulho para os seus pais. No entanto, ele esconde outra identidade sob essa fachada: na verdade ele é um assassino profissional responsável por 492 mortes. Entre a cruz e a espada, entre a lei e o crime, Júlio precisa descobrir uma forma de enfrentar os seus demônios.
O diretor Henrique Goldman, aqui tem a difícil tarefa de abordar o perfil de um assassino, sem transformar o protagonista Júlio em um monstro insensível, e ele se sai muito bem. Começando em um plano sequência com o personagem fugindo de uma multidão após um assassinato, até que somos transportados para anos atrás e passamos a acompanhar sua juventude na fazenda.Com isso o diretor nos leva da sua queda a sua pré ascensão, nos tirando do assassino sanguinário e nos levando para um jovem cheio de inseguranças e incertezas, criando assim, o contraste necessário para que o espectador consiga criar alguma empatia com o personagem.
Para ir além da empatia necessária e nos deixar mergulhar na mente de Júlio, o diretor opta por usar elementos diegéticos, esses que vão desde as roupas dele (observem como ele usa roupas brancas e de tons mais claros, antes se tornar matador e depois disso passar a vestir tons mais escuros), até a iluminação de determinadas cenas para ilustrar o estado mental do personagem, como a já descrita no início deste texto. Bem como das cores dos ambientes, vale ressaltar a diferença das cores do apartamento de seu tio, para as de sua casa na fazenda.
E falando em seu tio, não há como deixar de elogiar a atuação de André Matos, que consegue de transitar tranquilamente entre as funções de alívio cômico e assassino frio. A dinâmica de mestre e aluno e o consolo que ele insiste em oferecer a Júlio, criam nuances para o personagem, que contrastam perfeitamente com seu humor físico.
Todo o resto do elenco, apesar de estarem bem nos papéis (com destaque para Fabiula Nascimento interpretando Maria) sofrem com um grande problema do filme: sua montagem. Depois de alcançar a cena inicial – e momento de queda do protagonista – o filme perde ritmo tentando dar o protagonismo à personagem Maria, retirando assim o elemento o qual vinha construindo até então, o emocional de Júlio.
O filme erra também ao empregar humor nas sequências envolvendo o personagem de Matheus Nachtergaele, apesar de funcionar bem isoladamente (lembrando inclusive o típico humor dos Irmãos Coen) quando vista no contexto geral dos acontecimentos, parece desconexa do resto do filme. E se o filme trabalha muito bem o uso do silêncio em algumas sequências, principalmente a que envolve um assassinato de uma certa personagem no fim do segundo ato, em outras ele apela por usar uma trilha sonora estrondosa para causar um efeito de desconforto no espectador, uma ferramenta tão óbvia que casa perfeitamente com a tentativa quase infantilóide de ter uma carga social e passar sua mensagem, que pode ser resumida da seguinte forma “olha o quão hipócrita são esses personagens”.
Tenso e angustiante “O Nome da Morte” funciona muito bem como entretenimento, mas fracassa na tentativa de relevância social.
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