Em “O Quarto ao Lado”, acompanhamos o reencontro de duas amigas de longa data
Finalmente tive a oportunidade de assistir o primeiro longa-metragem dirigido em língua inglesa por Pedro Almodóvar. Estrelado por Tilda Swinton e Juliane Moore, o filme registra a luta de Martha contra o câncer, enquanto sua amiga de longa data Ingrid a ajuda no processo.

Antes de irmos a fundo no filme atual, gostaria de relembrar a trajetória do diretor ao explorar e experimentar o novo estilo de produção. Como sempre, seu irmão mais novo Agustin Almodóvar encabeça o departamento, e produziu anteriormente junto a ele dois curtas metragens com atores falantes da língua inglesa. No primeiro, “A Voz Humana”, ele reimagina uma das peças de Jean Cocteau e experimenta diferentes formas de registrar a aparência camaleonica de Tilda Swinton. No segundo filme, de forma mais ambiciosa, ele junta Pedro Pascoal e Ethan Hawk para fazer sua “versão” de “Brokeback Mountain”. “Estranha Forma de Vida”, apesar de questões pontuais, consegue manter a química entre os dois cowboys viva em tela. Ambos exercícios possuem seus pontos fortes e fracos, e em “O Quarto ao Lado”, o diretor se mostra consciente do que funcionou e o que não foi acertado dentro do seu estilo.
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Como resultado, temos uma obra deslumbrante. O filme ganhou o principal premio do festival de Veneza e tem forte projeção para a temporada de premiações. E não poderia ser diferente. Acompanhamos os devaneios, memórias, receios e certezas de Martha, correspondente de guerra do New York Times. Agora, após presenciar diversas guerras e o impacto dela na vida de pessoas próximas, ela enfrenta uma batalha pessoal. E apesar de tudo, a personagem se mantém sã de suas decisões e não perde em nenhum momento sua forte personalidade, representada em tela de forma magistral por Tilda Swinton.
Com a iminência da morte, Martha vive o presente como um fantasma
Entre suas trocas com a personagem da deslumbrante Juliane Moore, temos reflexões quanto o impacto de sua presença (e ausência) na vida de familiares e amores distantes. Nessas revisitações a personas do passado e passagens marcantes, vemos Martha explorar também o que a constituiu e fez com que ela se tornasse a mulher de decisões práticas e humor questionável. Permeando essas trocas, temos um humor muito refinado e pontual. Demonstrando a habilidade do roteiro em trazer para a mesa um tema mórbido com uma leveza até mesmo melancólica. Como resultado, a dupla de atrizes servidas com um texto brilhante entregam performances magnéticas. Os 106 minutos de duração parecem poucos, e a vontade que fiquei era de morar nessas trocas tão triviais e ao mesmo tempo dilacerantes.

E não é um filme do Almodóvar se a cor vermelha não for destaque! Aqui, a cor quente divide espaço com o verde, e cria um filme de encher os olhos. Até mesmo em um close simples de uma meia e um tênis nos vemos as cores contracenando. E o termo “contracenar” cai como uma luva ao pensar na forma como ambas estão presentes, sempre se opondo e existindo em locais distintos na tela. Até que se misturam… Junto ao trabalho de cores, Alberto Iglesias assina a trilha sonora, e juntos criam uma atmosfera muito única para o longa.
Com toda certeza, “O Quarto ao Lado” pode receber indicações na temporada de premiações, tudo depende da campanha feita pela produção.
*Este filme foi assistido durante o Festival do Rio 2024.

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