Jake Gyllenhaal vem provando, já há tempo, que é um dos maiores atores de sua geração. Sua versatilidade cênica é invejável, o que o permitiu estar participar de adaptações de livro de José Saramargo em “O Homem Duplicado”, passando por cults da década de 2000 como “Donnie Darko” e adentrando o denso “Animais Noturnos”. Não só são excelentes filmes como mostram uma capacidade impressionante de escolha de projetos. Grandes ou pequenos, a maioria da filmografia de Gyllenhaal passa longe de ser rasa ou esquecível, sendo, no mínimo, composta de obras que marcam quem as assiste. É um padrão que se estabeleceu desde o início de sua carreira e que se mostra bastante característico até os dias de hoje.
Seu mais novo longa é “O Que Te Faz Mais Forte” , baseado em fatos recentes, e é basicamente uma história de superação, protagonizada por um sujeito comum. Acompanhamos a vida de Jeff Bauman, rapaz que perde suas pernas nas explosões provenientes dos atentatos da Maratona de Boston, em 2013. Foi numa tentativa de reconquistar sua ex-namorada, presente no evento, que sua vida muda para sempre. A projeção segue mostrando as consequências do acontecimento, que giram em torno de sua relação com sua amada, mas também toma proporções nacionais, já que o protagonista vira símbolo de resistência americana. É nesses dois eixos que se dão a maioria dos conflitos e como o protagonista reage a eles, tendo sua vida mudado radicalmente. Temos um roteiro que não foge do convencional, mas que não se dá por grandes prejuízos por isso.
É necessário, portanto, que para que o cerne do filme tivesse alma, houvesse interpretações convincentes, sobretudo do personagem principal. Gyllenhaal nos entrega uma performance digna de seu nome, que comove e que faz acreditar na trajetória de um homem comum cujo destino é radicalmente mudado ao acaso. O esforço realizado para ações simples, cotidianas, é visível. Ir ao banheiro ou mesmo se locomover passam a ser trabalhos de árdua execução, e isso transborda numa atuação muito visceral. O resto do elenco dá suporte para que o protagonista seja ressaltado, cumprindo assim aquilo que é grande parte de seu propósito, mesmo que alguns coadjuvantes não tenham muito o que fazer em tela.
Nada disso funcionaria, entretanto, sem que outros elementos corroborassem. A direção faz tudo crível, cru, sem romantizar ou suavizar uma narrativa na qual isso poderia ter sido feito. Planos longos para cenas que a princípio seriam descartáveis são, na realidade, responsáveis pelo ar de dificuldade e de dramaticidade que se pede. Há um uso consistente de algumas câmeras subjetivas, nos colocando no lugar do personagem, e sequências contemplativas. Além disso, são bem construídas, o que inclui a cena do atentado propriamente dito. Nada é gratuito e aquilo que é mostrado precisa ser mostrado da forma como é, absolutamente realista. Seria possível até mesmo citar um ou outro momento que se destacam pela manipulação exercida pelos realizadores. O intuito é passar para o espectador as emoções que tocam uma história como essa, e colocar isso em prática através de uma experiência quase tátil, sensorial.
Existe ainda um uso do silêncio que casa bem com a formulação das cenas, somando ainda com ausência de diálogos, contribuindo para um clima angustiante que se apresenta. No mais, a trilha original, quando aparece, é bastante esquecível e dentro do que se poderia esperar.
“O que te faz mais forte” é inspirador e comovente na medida certa. Não cai para excessivo melodrama e nem sub-textos nacionalistas, embora ameace entrar nessas duas questões, em algum momento. Se ressaltam principalmente pelas atuações que se encontram e trazem uma dramaticidade muito verdadeira. Resta o questionamento de quando o Oscar virá para Jake Gyllenhaal.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.