Nota: Antes de ler este texto, você pode querer ler o recap do primeiro episódio da temporada, “The Boy on the Bridge”.
Assim como seu piloto, o segundo episódio de “The Alienist” já começa sem pudores com o grotesco. Na primeira cena, Kreizler visita um necrotério em busca de pistas sobre a língua cortada que recebeu no fim do capítulo anterior. Depois de ser praticamente interrogado pelo médico, o coveiro responde que se tudo aquilo se trata do menino encontrado na ponte, “ele teve o que merecia”.
A cena inicial marca todo o arco de Kreizler nesse capítulo – e possivelmente, na série. Ele é um homem firme em suas crenças, e não tem medo de fazer inimigos poderosos para defendê-las. Embora em alguns momentos ele seja até um pouco manipulador, as intenções do médico parecem ser guiadas por uma ética e humanidade inabalável.
Enquanto isso, o capitão Connor (David Wilmot) – um dos vários oficiais corruptos mostrados anteriormente – espanca e ameaça a família de Giorgio Santorelli. Ainda por cima, acompanhado de um padre que serve de intérprete para o policial.
Da sessão de tortura Connor vai para a delegacia, onde avisa Roosevelt, por meio de Sara, que os Santorelli não tinham muito o que dizer sobre a morte de Giorgio. Connor tenta ganhar a simpatia da moça sendo um pouco mais gentil, mas não funciona (o fato dele ter o sangue do pai de Giorgio nas mãos não ajuda muito).
Sara conhece Connor bem o suficiente para suspeitar do capitão, e pede a Moore que a acompanhe numa visita extraoficial até os italianos. Os dois chegam a residência e como era esperado, a família vive com outras em estado de miséria. Dos familiares de Giorgio, só um dos irmãos, Enzo (Giovanni Scotti) parece falar inglês e explica que Connor os mandou ficar quietos.
Tendo o filho como intérprete, a mãe de Giorgio explica que o menino fora expulso de casa pelo pai, por ser “diferente”. Ela também menciona uma informação crucial: outros meninos, em situação semelhante, foram assassinados.
A investigação não afasta Kreizler da clínica, e logo somos apresentados para mais um de seus pacientes: uma menina pré-adolescente que foi pega se masturbando. A mãe, aos prantos, explica que segundo o padre, a garota tinha o demônio na mente e por isso fazia aquilo.
“Você está se tornando uma jovem mulher e nem sua mãe ou o padre podem impedir isso” Kreizler diz para a garota, para acalmá-la. Ao fim da consulta, o médico é interpelado pelo padre em questão. Assim como o coveiro, ele acusa Kreizler de falta de fé . Kreizler não se abala, e o expulsa para fora da clínica.
Na delegacia, Sara vai mais fundo em suas investigações pessoais e procura por vestígios nos arquivos de casos sem solução. Para sua surpresa, a pasta com assassinatos de meninos está quase vazia. A secretária então invade a sala de Connor, enquanto o outro está fora, e faz uma busca mais detalhada. Escondidos em uma das gavetas, estão os arquivos de mais dois casos. Sara consegue sair sem ser pega, mas é vista pelo próprio Connor quando deixa a sala.
A moça leva suas descobertas para uma reunião com Kreizler e Moore. Os dois outros casos – um menino negro não identificado, e um menino identificado como Aaron Morter, que também se prostituía – não foram levados para frente por falta de informação. Sara acredita que podem haver outros, igualmente escondidos.
Kreizler então convida Sara para sair naquela noite. O convite desagrada visivelmente Mary, e a troca de olhares entre as moças revela que a empregada de Kreizler deve ter sentimentos mais profundos por ele – o que já tinha indícios na cena final do capítulo anterior.
A noite, a caminho de outro compromisso, Kreizler e Moore falam sobre Sara. John conta que ela perdeu a mãe muito cedo e seu pai morrera com suspeita de suicídio, de forma que foi mandada para um hospital psiquiátrico. Kreizler insiste que Moore tem interesses românticos com a moça, mas o ilustrador nega, visivelmente ofendido (“eu a conheço desde que era uma criança!”).
Os dois chegam ao seu destino – a ópera. Lá dentro, vem Roosevelt com outros figurões da cidade, como o então prefeito de Nova York, William Lafayette Strong. No intervalo, Kreizler põe Roosevelt contra a parede e insiste em realizar uma investigação paralela – deixando claro que Sara gostaria de estar envolvida.
Dalí, Moore e o médico se encontram para jantar com Sara e os irmãos Isaacson. Kreizler deixa claro seus objetivos: uma parceria entre todos, para realizar a investigação paralela (mais ou menos) autorizada por Roosevelt.
Como foi mostrado numa cena curta do início do capítulo, os Isaacson continuaram suas investigações além da autópsia dos Zweig. Os gêmeos apresentaram lesões semelhantes as de Giorgio – como os olhos arrancados – e os legistas descobriram a arma possivelmente usada em ambos os crimes.
A melhor parte do jantar, porém, é quando os Isaacson apresentam o protótipo de uma nova forma de identificação através das digitais das pessoas – já que elas nunca são iguais, nem mesmo gêmeos, como eles. Embora ainda pouco aceita, a técnica se mostra extremamente útil naquele caso, já que dentro das vestes de um dos Zweig, os legistas encontraram um relógio de bolso, sujo com as digitais do possível assassino.
Ao fim da reunião, Moore e Kreizler discutem porque o primeiro não quer Sara envolvida, para sua segurança. Quando o médico insiste que John tem sentimentos por ela, o ilustrador perde a paciência. Kreizler então sugere que o papel de John naquela investigação já tenha acabado. O comentário acaba com Moore. Ele recusa a carona de Kreizler e sai vagando, sozinho.
Embora se mostre extremamente protetor com Sara, Moore não dá nenhum outro sinal de interesse. Kreizler, por outro lado, deu vários ao longo dos dois capítulos. A cena seguinte, em que ele e Sara dividem a carruagem, reforça isso e também alimenta a possibilidade do médico ser correspondido.
Enquanto isso, Moore vaga até chegar ao novo endereço do Paresis Hall, onde Giorgio trabalhava. Lá dentro, ele tenta interrogar Biff Ellison, sem sucesso. Um dos colegas de Giorgio, porém, revela que o garoto tinha um cliente fixo, com um “sorriso de metal”.
A investigação, porém, não progride. Moore tem a bebida drogada por Ellison e é encurralado por ele, Paul Kelly e Connor. O capítulo termina com Moore, incapaz de se mexer e aterrorizado, encurralado pelo trio e mais dois dos meninos prostituídos.
Em “The Boy in the Bridge” a série parecia promissora, mas ainda muito travada. Em “A Fruitful Partnership”, a história e seus personagens entraram no ritmo, e “The Alienist” realmente se torna uma série empolgante, capaz de prender o espectador.
Mesmo sem dar informações muito relevantes sobre o assassino – que é novamente mostrado, sem ser revelado, com uma potencial vítima -, o capítulo aprofunda seus personagens, e com isso, constrói a base para os futuros conflitos da série.
Além de Kreizler, temos Sara e os Isaacson. Sua backstory a torna mais complexa, e justifica não só sua maturidade, como seu desejo por autonomia e liberdade. É difícil criar uma personagem como Sara, que deve ser uma figura de inspiração para o público feminino, sem cair em clichês superficiais. A construção da personagem nos dois capítulos iniciais, felizmente, tem ido para um caminho contrário.
Os gêmeos (fraternos) legistas são uma ótima surpresa em “The Alienist”. Além de serem altamente necessários para a investigação, por sua integridade e caráter visionário, criam um contraponto com o trio formado por Kreizler, Moore e Sara. Mesmo estando em segundo plano, as cenas em que são vistos na intimidade – o diálogo com a mãe, o romance de Marcus com Esther, a militante socialista – dão o humor e leveza necessários para o programa.
E temos John Moore. A sensação de que o ilustrador sobrava no grupo só foi confirmada na discussão entre ele e Kreizler. Em “The Alienist”, os “mocinhos” parecem ser definidos pelo modo como estão a margem de seu mundo. Mesmo Moore, Roosevelt e Kreizler não se encaixam por completo. O primeiro é um sujeito sensível demais para uma cidade moderna. O segundo tenta manter a integridade sem ir contra seus superiores, e o terceiro defende conceitos que até hoje causam polêmica. E numa cidade onde um assassino mata cruelmente aqueles que não se encaixam, ser “diferente” é como usar um alvo nas costas.
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