O longa “Operação Hunt” é uma grande estreia na direção do ator Lee Jung-jae, em um filme de espionagem dinâmico, intrigante e com diversas reviravoltas, como desde “O Espião que Sabia Demais” (2011) não víamos.
O interessante em sua história é o fato dos dois agentes principais se conhecerem e já serem rivais antes de uma viagem e do aviso sobre um atentado, o que traz aquela dinâmica de já torcermos para um ou para outro, dependendo de qual deles nos identificamos mais. Ainda há um contexto político fortíssimo em que, dependendo da inclinação do espectador, o levará, novamente, a escolher para quem torcer.
Dito isso, na maior parte das cenas há tensão e um clima de que estamos cada vez mais perto de localizarmos o espião, e a cada ação dos dois personagens principais, temos a impressão de que já sabemos o que está havendo, até que o filme nos leva em uma direção ou história paralela, adiando sabiamente nossas descobertas, como se o roteiro fosse escrito realmente por um espião infiltrado, querendo cobrir seus rastros.
O texto contém muitas reviravoltas, na verdade até demais para quem não está acostumado com filmes de espionagem, fazendo com que alguns possam se perder e decidir ficar até o final somente para descobrir onde o filme os levará e para constatar que, em tempos desesperados de ditadura, as pessoas estão dispostas a sacrificar tudo para ter uma esperança de liberdade. Em uma cena específica, inclusive – uma de lavar a alma – um dos protagonistas dá um tapa no rosto do seu chefe corrupto, que não sabe como reagir a descoberta de seus esquemas com a CIA (sempre ela), que está envolvida e interessada na situação por conta do poderio nuclear envolvido. Escancara-se então que numa ditadura a incompetência e corrupção são recorrentes.
O que deixa a trama ainda mais interessante são as ótimas atuações dos atores principais, que convencem nos seus papeis, na dinâmica que protagonizam e nas cenas de ação que ambos participam. Essas cenas de ação são eletrizantes e acontecem em momentos inusitados, como em um simples jantar, onde a esposa de um deles pergunta se eles se conhecem. Com irônico e raso sorriso (um dos poucos no filme), o hóspede acaba revelando que foi torturado pelo anfitrião.
Por falar em violência, vale destacar que há outros momentos de tortura um tanto quanto pesados, ocasionados absurdamente por motivos fúteis, mas que são “comuns” em uma ditadura. Ela que controla comunicações, pensamentos, e retira a humanidade de quem também pratica esses atos a mando de governos que geralmente só se importam em se manter no poder. Fora isso, sobram mentiras, violência e manipulações.
São esses momentos e na reviravolta final, onde descobrimos que nem sempre é bom estar certo e que, às vezes, temos que retroceder na mais importante de nossas decisões para escolher o mal menor que causaremos, é que se revela a força de “Operação Hunt”, um digno filme de espionagem que nos faz pensar que por mais que a democracia tenha defeitos, ela é um dos melhores caminhos para resolver as questões de um país.
Por Roberto Rezende
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