Por vezes sente-se falta de uma diversidade de gêneros no cinema brasileiro. Por que não há, além dos nosso excelentes dramas, mais fantasias, suspenses e policiais? Talvez, a cinematografia nacional esteja perdendo oportunidades criativas quando o medo de não ser aceito toma conta de seus cineastas. Claro que, uma vez ou outra, aparecem obras como “Carvão” e “Medusa” — só para citar os mais atuais —, mas parece que não é o suficiente, já que o cinéfilo sempre quer e pede mais. Para tentar suprir um pouco dessa falta, eis que surge o suspense investigativo sulista “Os Bravos Nunca Se Calam”. Bem, a verdade é que o longa de Marcio Schoenardie ainda pode ser classificado como uma comédia de humor negro com toques de filme de detetive.
A trama é sobre o jornalista Joaquim (José Rubens Chachá), que finaliza um livro denunciando um esquema de corrupção entre o prefeito e um ricaço de uma pequena cidade no sul do Brasil. Supostamente, os homens tramaram para que uma fábrica fechasse em prol da construção de um cassino no terreno. O problema é que Joaquim morre repentinamente e de forma misteriosa, o que leva seus filhos Caio (Eduardo Mendonça) e Manoela (Duda Meneghetti) a investigar mais a fundo as denúncias que seu pai fez no livro.
Essa é uma história que poderia muito bem ser contada de forma séria e sombria, mas o roteiro de Tiago Rezende e Gabriel Faccini prefere seguir o caminho da comédia de erros, principalmente quando Caio está em cena. O rapaz é o primeiro a começar a investigação, e insere nela muita paranoia e teoria da conspiração. O texto, contudo, é eficiente em esconder até o fim se as suspeitas de Caio são reais ou se ele é apenas um sujeito que assiste a muitos filmes policiais de Hollywood. O resultado é que o espectador fica com aquela dúvida boa sobre como aquilo tudo terminará. No meio tempo, fica-se com a boa atuação de Mendonça, que tem um timing ajustado para comédia. Para resumir, ele é aquele nerd atrapalhado que parece estar sempre a um passo atrás dos outros. A irmão formada em jornalismo interpretada por Meneghetti é um pouco mais séria, o que dá um bem-vindo contraponto com a comicidade de seu companheiro de cena. A dupla forma uma espécie de good cop e bad coop abrasileirado.
É claro que a dinâmica entre os dois também externa as magoas familiares. São irmãos que quase não se falam e que possuem um pai distante. Só a mãe (Mirna Spritzer) parece querer reuni-los novamente. A investigação na qual eles se metem, portanto, é uma forma de forçar uma parceria a fim de fazê-los exorcizar os demônios do passado. Esses demônios ou mazelas do passado são caracterizados por ambientes decadentes, com mobílias mal conservadas e paredes cheias de bolor, rachaduras e manchas. De certo, um trabalho digno de nota da direção de arte.
Com essas realizações estilísticas, atuações bem construídas e algumas reviravoltas desnecessárias no terceiro ato, “Os Bravos Nunca Se Calam” fica no positivo, o que mostra que seu diretor Marcio Schoenardie consegue fazer bom uso de seu artesanato cinematográfico. Por fim, entrega cerca de uma hora e meia de bom entretenimento e alguma reflexão sobre as relações humanas. Ou seja, já faz mais do que muito filme gringo cheio de pretensão que há por aí.
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Legal a crítica e interessante o tema❗
Parece realmente, sair das mesmices do Cinema Nacional.