É um desafio enorme escrever uma crítica de um documentário sobre um dos maiores escritores do Brasil. Otto Lara Resende, mineiro de São João Del Rei, escritor e jornalista brilhante e perfeccionista, pai e marido afetuoso, e ainda um um bom amigo. Dirigido por Marcos Ribeiro e a filha caçula de Otto, Helena Lara Resende, “Otto: De Trás p/ Diante” é tecnicamente impecável, criativo e, sobretudo, humano.
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O documentário vai muito além de uma costura de fatos e depoimentos. Nos sentimos envoltos pelo trabalho de Otto, sua paixão pela família e amigos, através das cartas, bilhetes e fotos que sobressaltam a tela quase sempre juntos e narradas pelo próprio. Isto nos faz ver Otto como inseparável da escrita, ainda que por vezes escrever fosse um fardo. O extenso material de arquivo nos é apresentado em parte pelo ator Rodolfo Vaz, que interpreta Otto com muita sensibilidade, a bordo da máquina de escrever.
Falar de Otto e sua escrita é também falar do grupo de amigos que reuniu por ela. Sobretudo Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino, com os quais mantém laços por toda a sua vida. Outra grande figura que atravessa o caminho de Otto é Nelson Rodrigues, que presta uma sarcástica homenagem ao amigo com seu livro “Otto Lara Resende Ou Bonitinha, Mas Ordinária”.
Otto para além do escritor
Para além da relação de Otto com a escrita, somos tomados pela sensibilidade dele como ser humano. O ora escritor de sucesso que precisa dar lugar a um “adido e mal pago”, o pai que se considera uma “mãe exemplar”. Aquele que gosta de estar no convívio dos bons, contudo, cultiva a calma e o silêncio. Além disso, é um homem feliz que fala de assuntos desagradáveis, especialmente em seus livros.
No curso do documentário, as Helenas selecionam cartas e bilhetes de Otto enquanto conversam calorosamente. Esses momentos criam um vínculo íntimo com o espectador, em perfeita harmonia com os depoimentos de Humberto Werneck, que sempre trazem informações valiosas sobre a vida do escritor. Para completar o belo espetáculo visual e afetivo, Júlia Lemmertz lê trechos de sua obra com a sensibilidade da grande atriz que é.
Ao final do documentário, Otto Lara Resende nos deixa uma importante reflexão para o Brasil de 2022: é preciso tentar ser o melhor ser humano que puder, mas, se não for possível, se esforçar ao máximo para não atrapalhar a vida de ninguém.
*Esse filme foi assistido durante o Festival do Rio 2022.
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