Paul Singer faleceu em abril de 2018, alguns meses antes de Jair Bolsonaro vencer as eleições e se tornar o trigésimo oitavo presidente do Brasil. Singer, economista e militante de esquerda, se vivido um pouco mais e visto os descalabros do criminoso que assumiu o cargo mais importante da república, não acreditaria na nova realidade brasileira. O judeu austríaco, radicado no Brasil depois que Hitler tomou o poder na Alemanha, lutou para que o povo tivesse direito à democracia e, com certeza, não aceitaria ver o país ser destruído pela miríade de fanáticos comandados por Bolsonaro.
A trajetória do operário, ministro e professor é contata pelo documentário “Paul Singer, uma utopia militante”,do consagrado cineasta Ugo Giorgetti, que usa o básico da linguagem documental para falar com amigos, colegas de trabalho e familiares do personagem principal e extrair deles suas impressões e memórias do passado. Talvez, a simplicidade narrativa seja para ir ao encontro das ideias de Singer, que apesar de ser um intelectual, trabalhava em prol da educação e esclarecimento do povo. Seus livros de introdução à economia são os melhores para que os leigos consigam entender um intricado mundo que parece separado do real.
É reconfortante ver o pensamento conciliador e comunitário de um homem em meio a uma sociedade que dá preferência ao narcisismo do “Eu Interior” e à competição sangrenta do Mercado, em que o mais forte sempre vence. A ordem neoliberal corrói a vida física das pessoas tornando-as apenas números em uma tela de computador. Números esses que fascinaram e educaram Singer, que ao contrário da nova sociedade, os usou para dar às pessoas ferramentas de saída para as várias crises geradas pelo capitalismo e fazê-las formar cooperativas e impedir o desaparecimento de seus corpos e do corpo coletivo.
O próprio filme de Giorgetti foi construído a partir da coletividade de uma campanha de crowdfunding que deixaria Singer orgulhoso. Pena que o professor não pôde ver a obra pronta, mas pelo menos sua vida agora pode ser conhecida e reconhecida por todos até que o registro audiovisual seja consumido pelo tempo. O próprio Singer agora faz parte de um tempo próprio, aquele em que a luta por justiça e igualdade social era mais importante do que os ganhos individuais. Giorgetti parecesse reconhecer isso ao mostrar seu protagonista sentado em frente a um fundo negro, como se ele estivesse fora do tempo, bem diferente dos outros entrevistados que estão em teatros, salas de aula e casas. O homem tão importante coletivamente agora está sozinho em uma espécie de olimpo de onde envia suas ideias aos discípulos na terra.
“Paul Singer, uma utopia militante” tem um propósito reformatório, já que fala de um homem com ensinamentos inteligentes e comunitários a um Brasil entregue à barbárie da ignorância. O próprio filme é um ato de resistência e servirá para virar e revirar mentes e trazê-las para o lado mais racional da nação. O obscurantismo destruidor será vencido e o verdadeiro humano voltará a florescer quando a educação proporcionada por pessoas como Singer for plenamente alastrada.
Este filme foi visto durante o Festival É Tudo Verdade
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