O quão inusitado seria a ideia de um peixe astronauta, que vive debaixo d’água e tem amigos como seres humanos e ainda um macaco que fala? “Peixonauta – O Filme” é uma animação brasileira que, com essa mistura improvável de ideias, constrói um personagem e seu universo, que dão origem a uma série e, agora, a um filme. Se a qualidade do cinema nacional é notória entre quem o conhece, o mesmo não pode ser dito no que se refere ao que há aqui de animações. Quase todo nosso repertório do que faz sucesso no Brasil é estrangeiro, o que poderia sugerir uma má qualidade desse setor.
Eis que, no entanto, “Peixonauta – O Filme” surpreende. É claro que não é nada revolucionário e nem de caráter inédito, mas demonstra um grande esmero de quem o produz, não parece desleixado em sua execução. O longa acompanha Peixonauta e seus amigos na cidade grande, pretendendo descobrir porque ela se encontra vazia, e mais tarde, notando que o que havia acontecido era um encolhimento coletivo de quem nela estivesse.
Temos uma narrativa que parece esticada, sendo um grande episódio normal de uma série de animação, porém inchado. Isso se mostra uma problemática dada a já duração curta que a projeção oferece, tendo 77 minutos apenas, e possuindo uma simples história. Naturalmente que é um tempo que passa de forma mais penosa para quem não for do público infantil, parcela para o qual o filme é direcionado. Para esse setor de espectadores, talvez seja uma animação bem fluída e divertida.
Se por um lado existe esse problema, alguns aspectos encantam por outro. Os desenhos são muito bonitos, de traços bem cartunescos que tornam os personagens, ambientações e movimentação aprazíveis, quase que como familiares. São sempre redondos e harmônicos. Tais traços se tornam ainda mais ressaltados pelo bom trabalho de dublagem feito, que encaixa bem os personagens a vozes que de fato parecem as que eles teriam. É curioso também notar que, apesar de não ser dita a cidade grande no qual se desenrola os acontecimentos, podemos notar que é São Paulo. Vários pontos conhecidos como o MASP, a Avenida Paulista ou o Parque Ibirapuera. Essa identificação, mesmo sem que seja dito, é possível graças aos animadores e a forma clara com que cumprem seu papel.
O trabalho de coloração encaixa muito bem com esses tópicos, trazendo cores sempre vivas e brilhantes para a tela. O 3D que é apresentado não as escurece de forma completa, sendo usado de forma cuidadosa e é possível notar que foi uma obra pensada para esse tipo de projeção. Há também de se mencionar algumas músicas colocadas aqui, que não tornam o filme um musical, mas que são lúdicas e caem muito bem para o público mais novo. Seu ponto fraco é, por vezes, ser expositivo demais quanto ao que se passa. A trilha que não é cantada não chama a atenção, mas compõe bem a proposta que é pedida.
“Peixonauta – o Filme” é ótimo para crianças, mas não entediante para os adultos. É uma animação muito honesta que transborda esmero e atenção de quem a produz, e deve ser valorizada por ser totalmente brasileira. Esses fatores, somados a falta de pretensão que a obra tem são, provavelmente, seus maiores valores. Para entreter não é preciso ser descartável, assim como não é preciso ser absolutamente genial em sua essência.
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