“Pobres Criaturas” é o novo filme do diretor grego Yorgos Lanthimos, conhecido por seus trabalhos como “A Favorita”, “Dente Canino”, “O Lagosta” e muitos outros títulos que fazem sucesso entre os novos cinéfilos. Eles sentem apreciação pela forma não convencional como Lanthimos trabalha seus personagens e pela criação de um mundo que muitas vezes causa angústia ao espectador.
No caso de “Pobres Criaturas”, existe uma fuga daquilo que Lanthimos faz de costume, que é causar um desconforto no espectador pela falta de sentimentos nos relacionamentos entre os personagens. Isso é quase da mesma forma que Wes Anderson faz com seus personagens, mas não tão forçado. Neste filme, o diretor decide propor uma experiência que mistura Frankenstein com o Expressionismo Alemão, sem contar a ênfase do diretor em mostrar que o filme é um discurso político.
Mesmo com o excesso de diálogos expositivos quando se trata de falar sobre o que cada personagem sente, ou o que o diretor quer gritar para o público e coloca algum personagem para falar isso quando o melhor lhe convém, o filme consegue ser o mais cômico de todos dirigidos por Lanthimos.
Sem contar que os atores, mesmo saindo da forma de atuação que Lathimos está acostumado a fazer nos seus filmes, conseguem colocar interpretações com ótimo timing cômico, e todos têm um desenvolvimento exemplar.
Os pontos técnicos fazem jus às interpretações loucas e cheias de nuances dos personagens interpretados pela protagonista, Emma Stone, e Mark Ruffalo (que com certeza é um de seus melhores trabalhos ao longo de sua carreira).
Mesmo Lathimos mostrando certos vícios técnicos em sua condução, como o exagero de zoom no rosto dos atores e o uso excessivo da lente olho de peixe em muitas cenas, até mesmo nas de transição, o filme consegue se manter em pleno funcionamento nas suas 2 horas e 20 minutos.
A obra trabalha muitos temas, sem nenhum deles invadir um ao outro, muito menos sendo executado de forma picotada como muitos filmes que trabalham múltiplos temas acabam errando. Temos em “Pobres Criaturas” a ideia de renascimento, a visão do olhar ocidental sobre o corpo da mulher que não encontra sentido nas regras impostas pela sociedade capitalista, o desenvolvimento do olhar humano, vindo da inocência ao mais puro prazer e à mais profunda melancolia.
Ironicamente, é mais um filme que desenvolve os temas da mesma forma que foi aplicado no filme “Barbie” deste ano, dirigido por Greta Gerwing. Claro que o autor presente não está comparando ambas as obras, até pelo fato de que a proposta do filme de Lathimos é completamente diferente, no sentido de como aplica e executa seu discurso.
Mas em “Pobres Criaturas” mostra não só essa mistura louca de referências citada no início do texto, mas uma criação de um mundo tão perturbado e psicodélico que conversa diretamente com o retrato do presente ocidental. A visão de um ser que acaba de nascer e não entende a loucura que o próprio homem não entende ao se olhar no espelho. Seja a ideia de amor confundida com posse, assim como a necessidade de “acabar” com um passado tão baixo que não pode ter mais lugar no presente.
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Ainda que “Pobres Criaturas” seja um filme com excessos, no quesito técnico e até mesmo de certos tipos de cenas que não acrescentam muito à narrativa, é uma obra que consegue fazer o espectador entrar em uma história hipnotizante, e comprova o porquê de clássicos serem tão necessários. Lathimos não tem medo em nenhum momento de mostrar como Frankenstein de Mary Shelley e o Expressionismo Alemão conseguem ainda ser tão encantadores e necessários para nós.
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