Imagine ter superpoderes por alguns minutos apenas tomando uma pílula. Agora imagine que, após tomar essa pílula, você não ganha superpoder nenhum, mas é explodido ou congelado de dentro para fora. Vale a pena arriscar em tomá-la? Esses é o dilema de vários personagens no novo filme da Netflix “Power”, e é nele que estão os melhores momentos da história contata pelo texto de Mattson Tomlin (que escreveu com Matt Reeves o roteiro do vindouro “The Batman”). De resto, há algumas estilosas cenas de ação, bom apuro estético e um elenco com atuações dentro da média dos blockbusters habituais, principalmente dos lançados pela Netflix. Ou seja, nada acima do banal.
É, de fato, um elemento de tensão interessante não saber se ao tomar “power”, como é chamada a tal pílula, uma morte horrível acontecerá ou se ela vai trazer super força, corpo a prova de balas, ou mutações que podem transformar um humano em uma criatura como o Hulk, mas o roteiro de Tomlin quase não o explora. Talvez ele o fizesse se “Power” fosse um filme mais conceitual, que discutisse temas mais complexos do que os que são apresentados durante as quase duas horas de sua duração, como o do pai (Jamie Foxx) que procura a filha sequestrada, o do policial (Joseph Gordon-Levitt) que usa artifícios moralmente discutíveis para fazer justiça e proteger a cidade que tanto ama, e o da jovem (Dominique Fishback) que vira traficante para pagar a cirurgia da mãe doente.
Sim, a palavra “clichê” pode ser usada para descrever a jornada do pai, do policial e da jovem, porém, se o roteiro trouxesse elementos dramáticos próximos dos que são vistos em “Poder Sem Limites”, por exemplo, a boa história tomaria forma acima de qualquer conceito já visto e revisto em outras produções do cinema, da TV ou dos quadrinhos. Já que isso não acontece, fica a cargo da direção e dos efeitos visuais a responsabilidade de fazer de “Power” um produto minimamente aceitável para o modelo de produção cinematográfica comercial de ação. Por isso, os diretores Henry Joost e Ariel Schulman (“Nerve: Um Jogo Sem Regras”) carregam seu filme de “estilo” com câmeras e cortes rápidos, além de sempre procurarem ângulos “impossíveis” para mostrar o que poderia ser resolvido com um plano/contra plano ou um plano geral. Realmente, gruas e steadicam são as preferidas dos diretores.
Alguém poderia dizer: se trata de um filme de super-heróis, então a direção não poderia ser simples. Dá para concordar com esse argumento, mas o maior atrativo de um filme, seja ele de qualquer gênero, não pode ser os malabarismos da câmera ou a pirotecnia dos efeitos visuais. Infelizmente, isso é “Power”. Em outras palavras: se preocuparam mais com os artifícios do que com o conteúdo, o que é uma pena, já que a premissa é interessante, e há ideias que, se bem desenvolvidas, teriam gerado algo notável. Talvez haja uma continuação que expanda o universo e traga algo mais interessante. Até lá, basta dar play na Netflix e passar um pouco do tempo, ultimamente tão longo por causa da pandemia.
Observação: O ator brasileiro Rodrigo Santoro faz um vilão no filme, mas seu papel é tão insignificante que não dá para analisá-lo. Santoro merece personagens melhores para fazer jus ao seu talento.
Vídeo e Imagens: Divulgação/Netflix
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