Quais são as nossas buscas diárias? Quais vazios carregamos? E o que estamos dispostos para preenchê-los, mesmo que de forma fugaz? A Peça “Procura-se”, da Quinta Companhia de Teatro, nos confronta com o desespero que secretamente vivenciamos no anseio de uma plenitude que não existe.
O primeiro trabalho da cia esteve em cartaz na Sede das Cias (na charmosa escadaria Selarón, na Lapa) durante o mês de fevereiro, encerrando sua primeira temporada com plateia cheia e animada. Um começo em grande estilo, para um grupo que promete muita coisa bacana.
O dinâmico espetáculo, dirigido por Carol Santorini, conta pequenas histórias cotidianas, narradas com um ar sutilmente caricato, acentuando as loucuras que existem quando se trata de relacionamentos. Não somente os amorosos (que tendem a ser os mais densos e complicados), mas, também entre amigos, desconhecidos, familiares. Com uma linguagem bem humorada, as pequenas esquetes se alternam em cena, por vezes confundindo os expectadores, por vezes sendo óbvias. No entanto, sempre escancarando as carências emocionais e afetivas de cada presente. Como uma “cutucada” carinhosa nas feridas: nossas perdas, nossa solidão e a constante busca por uma felicidade atrelada ao outro, e, não a si. Com uma grande leveza, o espetáculo proporciona uma reflexão interessante sobre as posturas adotadas no trato com o outro e consigo, dentro de cada busca desesperada que se pode ter dia após dia.
De forma geral, o contexto cênico é enxuto e neutro. O figurino básico, elaborado por Renata Mota, é uma opção inteligente, considerando que cada ator em cena interpreta diversos personagens ao longo da apresentação – cabendo a eles a função de descrever (através de suas atuações) qual o propósito de cada um em cena, sem o auxílio da indumentária. O cenário, de Daniel Disitzer, é simples e versátil, propondo configurações cênicas variáveis. Somado à iluminação de Cíntia Silva, delimitou os espaços e contextos, atendendo bem às propostas.
O texto, de autoria da Cia, interage com o público em diversos níveis tocando no íntimo e também nos casos distantes (como ocorre ao tratar da síndrome de Estocolmo). Contudo, o roteiro ainda apresenta algumas pequenas falhas, carecendo de uma maior integração entre esquetes, visando um conjunto melhor amarrado e harmônico. As mensagens mais nítidas são facilmente compreendidas, as entrelinhas, por outro lado, poderiam ser trabalhadas deixando o conteúdo mais profundo e sensível.
A trilha sonora é um dos pontos altos do espetáculo. O responsável, Rafael Telles, também fica por conta de embalar a peça com uma guitarra ao vivo, encaixada em momentos exatos, desempenhando um papel interessante ao envolver o público desde sua entrada na sala.
O trabalho dos atores varia em ritmo e qualidade ao longo das esquetes. De maneira global, desenvolvem os números de forma divertida e envolvente havendo, entretanto, alguns hiatos nos quais o ar caricato acaba não sendo convincente. E a variação no ritmo das esquetes pode, em algum grau, auxiliar nessa percepção.
O espetáculo vem sendo desenvolvido sem patrocínio, o que faz saltar aos olhos o empenho de toda equipe. Do lado de cá, fica a torcida por novas temporadas de “Procura-se” pelos palcos do país.
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