A atual situação degradante da política e da sociedade brasileira teve início em 2013 quando as manifestações de rua deram o pontapé inicial para o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff. Há sete anos, o povo protestava por um país mais solidário com os pobres, por mais igualdade social e combate à corrupção. No entanto, havia grupos desconhecidos infiltrados no movimento, e que foram determinantes para, no futuro, elevar um ser destrutivo ao cargo mais alto da república. Ironicamente, uma manifestação popular ajudou Jair Bolsonaro e a extrema-direita a tomar democraticamente o poder. Como consequência, foi iniciada a deterioração da própria democracia e da República. É essa a história que conta o documentário “Pulsão”, dirigido por Di Florentino.
O filme de um pouco mais de uma hora traça todo o caminho de transformação pelo qual passou um país antes minimamente preocupado com o social e que agora só existe em prol do mercado e dos ricos. Há em suas imagens de arquivos fatos que não podem ser negados por nenhum apoiador de Bolsonaro, como a interferência da tecnologia, através de smartphones conectados nas redes sociais como Facebook e Whatsapp, em todo o processo político de 2013 até a última eleição presidencial de 2018. Fake-News, pós-verdade, retóricas populistas e ignorância são o que mais se disseminou durante as campanhas de candidatos de extrema-direita apoiados por um Bolsonaro que conseguia eleitores alucinados e desinformados em todos os estados da nação.
Com o desenvolvimento dos propósitos de “Pulsão”, é desalentador notar que, mesmo com todo o aparato de informação nas palmas das mãos, essas pessoas se mantiveram desinformadas ao ponto de eleger um ser mitológico. O roteiro do próprio Florentino, escrito em parceria com Sabrina Demozzi, aponta os personagens dessa ode à desinformação, como Kim Kataguiri, e seu criminoso MBL, Joice Hasselmann, Janaina Paschoal, entre outros. Curiosamente, tanto Kataguiri, quanto Hasselmann e Paschoal se tornaram políticos, a raça suja que eles tanto discriminavam anteriormente. O fato é que eles ajudaram a elevar figuras como o próprio Bolsonaro e Sérgio Moro. Esses dois foram os bem-sucedidos, é claro. As tentativas frustradas anteriores foram Aécio Neves e Eduardo Cunha, que foram tragados pelos seus crimes do passado.
Os discursos e as falas de todos esses citados, intercalados com alguns de Dilma, Lula e de outros membros da esquerda, demonstram o cenário de ideologia rasteira que se instalou no Brasil, e que foi usado pelos oportunistas que só visavam o poder. O documentário aproveita essas várias falas para apresentar os fatos sem ser partidário. Claramente, seus realizadores estão em uma posição mais à esquerda do espectro político, mas eles não usam seu filme para tecer discursos irrelevantes e desnecessários contra seus opositores. Em nenhum momento há críticas veladas contra a direita ou a extrema-direita. Há, novamente, apenas os fatos. Talvez, “Pulsão” não gere tanta repercussão por falar basicamente dos mesmos assuntos do famoso “Democracia em Vertigem”, de Petra Costa – que foi indicado ao Oscar – e do premiado “O Processo”, de Maria Ramos, o que seria uma pena, já que a história precisa ser lembrada constantemente para que os erros do passado não se repitam no presente e no futuro.
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