O filme “Segredos de um Escândalo” conta a trajetória de uma atriz chamada Elizabeth, que vai até uma família composta por um casal e três filhos para um estudo de personagem. Enquanto Elizabeth tenta entender quem foi Gracie Atherton, o passado do casal vem a tona e começam a passar por trâmites por conta da presença da atriz.
O diretor do filme, Todd Haynes, desenvolve uma narrativa com uma atmosfera de suspense e atenção nos detalhes que decorrem na relação dos três personagens foco da narrativa: Elizabeth, Gracie e Joe. Além de aparentar uma falsa relação de paz entre eles, cada um dos personagens mostra conflitos internos e a busca por respostas sobre o porquê desses conflitos estarem acontecendo.
A obra carrega uma linguagem que lembra bastante produções como “Veludo Azul” e “Cidade dos Sonhos”, do diretor David Lynch, que utilizam alguns planos para mostrar que existe algo de muito errado nas entrelinhas daquele espaço tão iluminado e com cores tão leves. A direção artística e fotográfica enfatiza mostrar esse mundo como um lindo bolo enfeitado, mas completamente podre por dentro.
É importante frisar aqui a abordagem de um tema pouco falado que é a pedofilia no caso contrário. Onde uma mulher mais velha “se apaixona” por um garoto muito mais novo, e depois se casam e tem uma família “aparentemente” normal. Algo que demonstra um desenvolvimento detalhado na atuação do personagem Joe, interpretado pelo ator Charles Melton.
Charles apresenta um homem completamente seguro de todas as escolhas que fez no início do filme, como um homem maduro. Mas no desenrolar do roteiro, se mostra uma figura completamente afetada pelo que ocorreu. E o pior, a figura de Gracie, que se vende como uma pessoa doce, meiga e sentimental, tendo total controle sobre a figura desse jovem em completo estado de confusão. Confusão que aumenta com a presença de Elizabeth na narrativa.
A relação de Elizabeth com Gracie é um dos pontos que mais entregam potência a obra. A forma como ambas são falsas uma com a outra e como cada uma delas jogam de forma mental com a cabeça de Joe chega a ser um jogo de quem quer mostrar quem manda no que está acontecendo, e não uma simples pesquisa de personagem.
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A fotografia gosta de brincar muito com as personagens e os espelhos que estão no plano, seja em banheiros ou até mesmo em lojas de roupa. A forma que a direção conduz a narrativa com os espelhos e vidraças ao longo da história, conversam com a dualidade, a manipulação e a identidade dos personagens (muitos vão se remeter ao filme “Persona”, de Ingmar Bergman, em planos envolvendo espelho com as personagens Elizabeth e Gracie).
A trilha do filme faz parte da construção desse suspense sobre como vai acabar a relação desses três, e o que cada um que está ali envolvido quer realmente, além do que eles dizem entre eles e para o espectador (de forma que chega a ser irônica). Mas ela se repete muitas vezes durante a trama, além de entrar em momentos que acaba sendo mais invasivo do que complementar a mise en scene.
“Segredos de um Escândalo” é uma obra que consegue abordar as relações humanas por manipulação de interesses próprios, colocando temas polêmicos em discussão sem ser de forma apelativa e entregando uma experiência de completa agonia.
Mesmo sendo um filme com a repetição excessiva de certos pontos como a trilha sonora, e a soma de alguns personagens que não acrescentam muito ao que acontece na narrativa (vide o personagem Georgie Atherton, que não soma nada e mais atrapalha o caminhar da história), “Segredos de um Escândalo“ consegue penetrar a cabeça do espectador em se perguntar depois de assistir: “Algo estava acontecendo ali, e não sei o que é.”
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