Universos compartilhados no cinema estão em alta, definitivamente. Não é um fenômeno novo, e tampouco muito antigo, mas que parece vir ganhando cada vez mais força entre grandes produções do audiovisual. Isso, no entanto, não ocorre do nada, dado que pode ser um projeto pretensioso num primeiro momento, mas que se mostra enormemente lucrativo caso seja um sucesso. Dentre exemplos, pode-se mencionar os já clássicos heróis da Marvel e da DC Comics em suas adaptações cinematográficas e até mesmo uma tentativa de série de filmes abordando os monstros da Universal. Tal recurso não é garantia de qualidade, entretanto.
Cloverfield surgiu então como uma franquia singular desse tipo de formato, e que a princípio pouco se sabia, tendo lançado seu primeiro filme em 2008, e o seguinte somente em 2016. O terceiro e mais recente, “The Cloverfield Paradox” chega em 2018, com menos distância de tempo de lançamento que os anteriores, mas ainda tratando do mesmo mundo. Se sua estreia era basicamente um found-footage, a continuação flertava com gêneros como suspense e o terror, mas mantendo certo clima já previamente estabelecido. Já o último lançamento se mostra como o mais pretensioso até agora, mudando totalmente a ambientação da história e indo para o caminho da ficção-científica.
Trata-se, agora, de um grupo de astronautas internacionais que, ao tentar ativar um acelerador de partículas para suprir a aparente falta de energia na Terra, acaba parando em uma dimensão paralela. O roteiro acompanha esses personagens em sua jornada para voltar para casa, e passa longe de qualquer resquício autoral. Ao contrário do que havia sido feito na série até então, “The Cloverfield Paradox” usa e abusa de clichês do gênero, se tornando sem qualquer identidade própria. Seus antecessores carregavam forte carga de surpresa e boa execução, que é o que sentimos falta aqui. Muitas das cenas parecem refilmagens toscas de “Alien”, recicladas e sem nada a dizer. Não bastasse esse fraquíssimo ponto, os personagens que acompanhamos são porcamente desenvolvidos. É uma ideia interessante que a nacionalidade deles seja variada e que isso se relacione com o que se passa na Terra, mas de que adianta isso se não há base para eles ? O espectador não se preocupa com nenhum dos protagonistas durante a projeção porque eles soam absolutamente dispensáveis e sem qualquer relevância. Esse aspecto peca ainda mais por prejudicar tanto um talentoso elenco que existe em tela. Nota-se facilmente que é uma equipe sub-aproveitada Há também a abundância de diálogos expositivos, que mesmo se mostrando necessários por vezes, tornam excessivamente mastigado. Basta lembrar que, no cinema, tudo que pode ser mostrado invés de falado, assim deve ser feito.
O design de produção funciona de maneira ao menos razoável, estabelecendo bem os elementos mais essenciais de uma ficção-científica. O mesmo pode se falar dos figurinos e da ideia de que essa obra se passa no futuro, mas num futuro não tão distante assim. Ainda nos quesitos técnicos, o diretor consegue, em alguns momentos, imprimir tensão nas sequências em que isso é pedido. Esse é um mérito que infelizmente acaba ficando apagado por conta dos outros defeitos apresentados.
“The Cloverfield Paradox” infelizmente é bem mais fraco que os outros de seu universo. Apresenta ideias muito interessantes que dariam um ótimo longa com facilidade, mas que não chega nem perto disso. O segredo talvez fosse ter feito algo de menor escala, como aplicado anteriormente, ou ter trabalhado de forma mais independente da franquia que quer expandir. É, talvez, de forma mais intimista que as coisas tenham dado certo como deram. Cloverfield possui forte potencial, mas funcionaria melhor no formato de antologia, sem pressão e necessidade de apresentar produções que se desenrolem de forma episódica.
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