Metalinguisticamente falando, a obra “Thirteen reasons why”, traduzida como “Os 13 porquês”, não é um produto de fácil crítica. Não somente por ser um tema pesado e pouco discutido, mas também por ser uma série que é além das filmagens e do próprio roteiro. Tanto o livro, como o seriado, ambos marcaram muitos jovens nas épocas de lançamento, é uma advertência. Uma ficção tão real que deveria virar obrigação como leitura nas escolas, seja qual for o lugar.
No caso, focando na série, não cabe neste texto apontar os defeitos e qualidades da direção e da atuação de cada um – conteúdo que, se fosse discutido, seria praticamente impecável. Todos se empenharam para concretizar o mundo de Hannah Baker, visto que, mesmo sem números específicos, existem muitas Hannahs . Assim como, existem diversos Justins, vários tipos similares ao Alex e, principalmente e o que mais causa choque, muitos Bryces.
A história baseada no livro homônimo de Jay Asher conta como uma adolescente de 16 anos se matou e que, para que todos entendessem os motivos que a levaram a isso, deixou 13 fitas explicando-os. A narrativa é feita pela própria personagem em questão, chamada Hannah Baker (Katherine Langford), tendo uma divisão do espaço-tempo entre os flashbacks relativos a cada fita e o momento presente, em que Clay Jensen (Dylan Minnette) recebeu uma caixa com todas as gravações e, lentamente, as ouve.
Como o nome já menciona, há 13 motivos, com rostos específicos para cada um deles. Ao longo dos também 13 episódios, vão sendo reproduzidas as fitas em ordem cronológica e, junto a isso, são mostrados momentos em que o caráter de cada um dos personagens é desenhado gradualmente. Da primeira a última, não só tem uma linha de raciocínio conforme as datas em que cada motivo ocorreu, mas também o grau de complexidade vai aumentando de acordo com o andar das mesmas.
Novamente, apesar da função da crítica ser visualizar um todo, desde a parte técnica, como uma reflexão, desta vez, a importância será da segunda parte. Obviamente, há pontos, por exemplo, como só desvendarmos em qual tempo se passa tal cena quando olhamos para a testa de Clay e também pouco ser desenvolvida a afinidade de Hannah e Tony (Christian Navarro), mas são meros detalhes que não deixam com que a série seja menos grandiosa.
Na época em que foi lançada, muitas pessoas se negaram a assisti-la, devido ao tema e por ter virado uma “série da moda”. Houve um número alto de telespectadores, mas o termo pejorativo utilizado para denominar a obra faz com que a forma de pensar de adolescentes e adultos fique em evidência.
Da mesma maneira que na série, desmerecer algo ou alguém pode causar sérias consequências. Não querendo comparar níveis distintos de importância, mas o modo em que lidamos com certos detalhes da vida, é possível que indique também como olhamos para situações maiores.
A grande genialidade de Jay Asher, assim como na adaptação de Brian Yorkey para a Netflix, está no simples tema, porém não menos essencial, a questão de comportamento social, dentre outros atos de extrema relevância que podem ser englobados na forma em que nos comunicamos com os demais ao nosso redor. Em muitos filmes hollywoodianos, há a protagonista em que é rejeitada na escola, mas que, um dia, o popular repara na menina, sofrem o preconceito de serem de “mundos diferentes”, segundo a mente doentia dos adolescentes e, depois, conseguem seu final feliz. Dentro da maioria deles, é mostrado de forma explícita o bullying, com agressões físicais e verbais. Contudo, ninguém parece se importar com esse aspecto em grande parte dos casos, mas, sim, se o garoto bonito fica com a dita como esquisita ou nerd ou anti-social.
“Thirteen Reasons Why” é quase como um grito, uma sirene de polícia no volume mais alto viável. Por mais que não tão valorizada, é uma tentativa de fazer com que o mundo de hoje se permita falar desses assuntos e que possa ser feito algo a respeito. A história não é somente sobre suicídio, como em muitas sinopses aparece. É sobre o habitat dos jovens em período escolar e do que eles se alimentam, de forma metafórica. Alguns, para sobreviver, precisam pisar nos colegas de classe, em todos os sentidos, já outros gostam de se valorizar não só menosprezando o próximo, mas também o humilhando. O gostinho que isso dá somente os agressores sabem. As diversas temáticas encontradas, como estupro, atos inconsequentes e dificuldade de lidar com a própria sexualidade, fazem um forte combo em que não se pode ignorar.
Não é praticável saber o que se passa na cabeça das pessoas que convivemos, muito menos saber como elas se sentem após atitudes alheias. No caso de Hannah Baker, como pode ser o de muitas pessoas espalhadas no globo, ela não se matou para chamar atenção ou para que fosse uma espécie de vingança para os que ficaram. Foi a saturação de uma menina de pouca idade, mas que já havia vivido muita coisa. Não há um método comprovado de como ajudar pessoas com esse tipo de dor, mas com a vinda da perspectiva de ambos os roteiristas da série, a lição que fica é a reflexão de como falamos, agimos e notamos alguém do nosso lado. Com muitas campanhas positivas sobre o assunto e tentativas de auxiliar quem pode estar passando por momentos como esses, a deixa da primeira temporada é de que não só Bryce merece sofrer e muito pelo seu ato desumano, como também, daqui para frente, o caráter que queremos construir para cada um de nós.
A próxima temporada chega ainda em 2018 na plataforma, com, provavelmente, muitas respostas deixadas em aberto, como o julgamento da família Baker contra a escola, o futuro de Bryce e Alex, tendo o primeiro, esperançosamente, indo para a cadeia e, o segundo, lutando para viver.
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