John Krasinski sai da zona de conforto na direção e entrega um ótimo filme, mesmo com roteiro estagnado
Em 2018, “Um Lugar Silencioso” provou que filmes de terror podem – e devem – ser muito mais que jumpscares e gritos. Pelo contrário, colocou a sobrevivência dos personagens no silêncio, diante de uma ameaça alienígena. Curiosamente, a chegada aos cinemas da sequência “Um Lugar Silencioso – Parte 2” foi sucessivamente adiada ao longo de 2020, por uma ameaça invisível do mundo real, a Covid-19. O texto a seguir pode conter spoilers.
Leia também: Crítica: Um Lugar Silencioso
E o filme começa no dia da chegada dos monstros, num flashback. De maneira brilhante, a cena inicial faz referência a cena de início do primeiro filme, trazendo vários elementos daquela farmácia abandonada para um supermercado, com Lee (John Krasinski) fazendo todo tipo de barulho. Enquanto no primeiro filme a estrela é o silêncio, o grande protagonista da parte 2 é acertadamente o som e todo o caos que traz consigo nesse primeiro contato da família Abbott com as criaturas, após a interrupção abrupta de um jogo de beisebol de um típico dia em família.
Outra decisão acertada da direção, foi colocar a tensão em movimento com mais cenas de ação e confrontos das pessoas com as criaturas. Além disso, como agora os protagonistas já sabem o que fazer para enfrentar esses seres, já se permitem sussurrar para se comunicarem e se movimentarem de forma menos calculada. Tecnicamente, tudo certo. A qualidade do som foi ainda melhor que o primeiro e o filme tem bons movimentos de câmera. Mas tudo foi pensado para a experiência nos cinemas, o que é ótimo, mas pode ser um problema em tempos de pandemia.
O ponto fraco aqui é certamente o roteiro. Quando o filme retorna para o ponto onde parou o primeiro, a história se arrasta, se torna repetitiva e beira o ridículo, especialmente em uma cena em que Marcus Abbott (Noah Jupe) decide dar um passeio pelo novo abrigo, mantido por Emmett (Cillian Murphy). Afinal, eles já conhecem muito bem como esses seres agem após mais de 1 ano nessa situação (474 dias, para ser exata). Inclusive, a adição do Emmett à história serviu mais para desdobrar a cisão entre ele e Lee no inevitável terceiro filme.
O roteiro só se salva quando Emmett e Reagan (Millicent Simmonds) saem em busca de levar o que sabem para uma comunidade que faz transmissões via rádio de uma ilha, onde conhecemos mais uma fraqueza desses alienígenas. Mas a sensação que dá é que o filme foi escrito para ser um filler, ou seja, serve mais para ganhar um tempo para o próximo filme aproveitando o inesperado sucesso do primeiro.
Apesar do roteiro fraco, as atuações fazem um verdadeiro milagre. Dão tudo de si com o pouco que receberam. Emily Blunt entrega muita verdade vivendo uma mãe em constante luta para proteger o que lhe resta, sem tempo sequer de chorar mais uma perda familiar. Mas o grande destaque é, com toda certeza, Millicent Simmonds, com expressividade ímpar e muito carisma, Reagan é merecidamente promovida a heroína da história. Um presente considerando toda a jornada da personagem. Cillian Murphy tem bons momentos mas não chega a impressionar. Infelizmente, todo o potencial que conhecemos de Djimon Hounsou não foi aproveitado pelo pouco tempo de tela do personagem, que sequer tem nome.
Por fim, “Um Lugar Silencioso – Parte 2” é um entretenimento de alta qualidade, que privilegia a ação ao terror com excelentes atuações, mas não avança na narrativa e tem uma conclusão óbvia para trazer mais um filme para a franquia. Agora é aguardar que o desenrolar ou a conclusão dessa história aconteça em um mundo mais tranquilo e pós-pandêmico, onde uma ida ao cinema volte a ser normal.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.